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22 de novembro de 2024
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Pandemia faz aumentar morte cardiovascular em casa

A pandemia do novo coronavírus fez aumentar em 32% as mortes cardiovasculares em casa. Entre março e maio deste ano, elas somaram 15.870, contra 11.997 no mesmo período de 2019.

Elas representaram a grande maioria dos óbitos cardiovasculares ocorridos nesse período de análise, que totalizaram 19.573, 31% acima do registrado em 2019 (14.938).

Mortes em domicílio por causas cardíacas inespecíficas, ou seja, sem um diagnóstico fechado, quase que dobraram (passaram de 4.852 para 8.550).

Os dados fazem parte de um novo módulo do Portal da Transparência, lançado nesta sexta (26), que reúne os óbitos por doenças cardíacas e que foi desenvolvido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) em parceria com a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).

A análise vêm a corroborar uma percepção que havia entre os cardiologistas de que por medo do contágio do coronavírus nos hospitais ou por falta de acesso à assistência, muitas pessoas estavam retardando a busca por socorro.

Segundo o cardiologista Ricardo Costa, presidente da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, a partir da segunda quinzena de março, houve queda de até 70% nas angioplastias primárias (colocação de stents), principal tratamento do infarto.

– Nossa principal suspeita sempre foi que pacientes, mesmo como sintomas de infarto, estão deixando de buscar serviços médicos, com receio de serem expostos [ao coronavírus] – afirmou.

Além de um maior risco de morte, esse atraso pode piorar a situação clínica, aumentar tempo de internação e gerar mais danos ao músculo do coração, levando a uma insuficiência cardíaca, por exemplo.

Para Marcelo Queiroga, presidente da SBC, além do medo das pessoas, a desorganização das redes assistenciais que levaram à desativação de serviços de urgências e emergências durante a pandemia, ou mesmo a delimitação de hospitais específicos para atender a Covid-19 podem ter contribuído para esse afastamento dos pacientes dos cuidados médicos.

Segundo análise da SBC, entre os estados que mais registraram aumento no número de mortes por doenças cardiovasculares no período analisado está o Amazonas (94%), Pernambuco (85%), São Paulo (70%), Ceará (63%) e Espírito Santo (45%).

As mortes por infarto e AVC tiveram queda de 14% e 5%, respectivamente. Elas caíram nas cidades mais desenvolvidas, mas, na região norte, em especial em Belém e Manaus, registraram aumento.

– Isso mostra o colapso do sistema de saúde nesses locais, que já não era bom e, com a pandemia de Covid, a situação piorou ainda mais – afirma Queiroga.

Mas, mesmo os dados que mostram redução de mortes por infarto e AVC são vistos com ressalvas. Para o presidente da SBC, é possível que muitos casos estejam entre os registros de mortes sem causa definida ocorridas em casa.

Também não é possível saber quantas dessas mortes cardiovasculares estão relacionadas à Covid-19. Os cardiopatas estão entre os principais grupos de risco para doença, ao mesmo tempo que a própria infecção causa danos ao coração.

Segundo a cardiologista Gláucia Moraes Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para além das mortes, as doenças cardiovasculares não tratadas corretamente durante a pandemia devem causar grande impacto nos sistemas de saúde nos próximos meses.

– É preciso campanha pública para conscientizar sobre a importância do cuidado cardiovascular, mesmo durante a pandemia – disse.

A médica Luiza Brant, professora da clínica médica da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), uma das autoras da análise, diz que os dados podem ajudar autoridades de saúde a aumentar a capacidade de assistência médica nesses locais de baixas condições socioeconômicas e atuar de forma preventiva.

O cardiologista Tom Ribeiro, também professor da UFMG, lembra que esses números de mortalidade cardiovascular dos cartórios ainda não são definitivos, mas mostram uma tendência de mortes cardíacas em casa, a exemplo do que também foi registrado em regiões da Itália e nos EUA.

O banco de dados do registro civil brasileiro tem a vantagem de ser a única fonte de dados prontamente disponível de mortalidade, mas eles servem apenas para fins demográficos (e não epidemiológicos).

A fonte oficial de dados de mortalidade para o Brasil é o SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), que adota procedimentos de investigação, codificação ou redistribuição de causas de mortes.

A qualidade dos dados dos cartórios depende do quão corretamente foram preenchidos os atestados de óbito, que podem variar muito entre os locais e apresentar atrasos.

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