O sargento Alexandre da Silva Salazar (PL), vereador mais votado de Manaus, é acusado pelo Ministério Público do Amazonas de homicídio por ter dado seis tiros em um homem que havia participado de um roubo em um ponto de ônibus, em junho de 2019, enquanto estava de folga, segundo denúncia obtida pela Folha.
Salazar ficou famoso por publicar vídeos da rotina policial nas redes sociais, foi eleito com 22.594 votos e recebeu o apoio de Pablo Marçal (PRTB). Um inquérito militar também concluiu, em setembro de 2024, que ele cometeu abuso de autoridade e transgressão de disciplina ao divulgar imagens de uma detenção.
Procurado, o vereador afirmou que foi inocentado em todos os outros processos em que foi citado. Ele disse que se defenderia em suas redes e que processaria o jornal se houvesse fake news. Seu advogado, que se identifica apenas como Carioca, respondeu que “o profissional que trabalha na rua está fadado a ter processos”.
Salazar foi denunciado por homicídio uma semana após ser eleito. A acusação diz que ele estava em seu carro, sem farda, quando viu um homem armado roubando a bolsa de uma mulher e depois fugindo com um cúmplice que dirigia uma moto.
O sargento, então, perseguiu e colidiu com a moto, derrubando a dupla no chão. Em seguida, desceu do carro, correu atrás deles e atirou. Um dos homens, Felipe Kevin de Oliveira Costa, 27, morreu, enquanto o outro fugiu. O policial foi embora em seu veículo, sem registrar a ocorrência.
A investigação ficou paralisada por um ano e meio, sem pistas do autor dos disparos. Salazar só se apresentou à Polícia Civil e assumiu a autoria da morte um ano e meio depois, quando o portal CM7 publicou as imagens de uma câmera de rua, citando seu nome.
Ao prestar depoimento, o sargento disse que agiu de acordo com a lei. Afirmou que o carona deu dois tiros em sua direção durante a perseguição de carro, que a moto caiu e que, quando correu para detê-los, o homem atirou uma terceira vez. Ele, então, revidou, dizendo não se lembrar quantos disparos realizou.
A investigação, porém, indica que Felipe Kevin não era o assaltante que estava armado e não cita troca de tiros. Nenhuma arma foi encontrada quando a polícia chegou ao local, e a mulher que teve a bolsa roubada relatou que o morto não era quem a tinha assaltado.
Além disso, as imagens indicam que o carro e a moto partiram de direções distintas antes de se chocar. Questionado, Salazar disse por meio de seu advogado que “a arma estava com o que fugiu” —em depoimento, havia dito que não a apreendeu por receio se ser retaliado—, e não explicou por que não foi à delegacia naquele dia.
Contabilizando esse caso, o vereador já foi citado como autor em ao menos 24 investigações ou ações na Justiça desde 2009, em sua maioria por crimes militares, mas também por abuso de autoridade e ao menos outros três homicídios.
Segundo levantamento feito pelo Tribunal de Justiça do Amazonas a pedido da Folha, 17 desses casos já não tramitam mais: 4 prescreveram, 6 terminaram em absolvição e 7 foram arquivados, sobretudo por falta de provas. Os outros 7 estão em andamento.
Outro levantamento, feito pela defesa de Salazar, diz que apenas quatro ainda estão ativos. Seu advogado afirma que, “como ele sempre trabalhou na rua, a quantidade de processos não se faz tão relevante, visto não haver condenação em nenhum deles”. Ele enviou também uma ficha com 45 elogios de superiores.
Procurada, a PM do Amazonas não respondeu quantos procedimentos administrativos já foram abertos contra Salazar. Afirmou apenas que “eles seguem os prazos e trâmites estabelecidos pelas instituições e leis vigentes” e que o sargento passou para a reserva de corporação assim que foi diplomado vereador.
Folha de SP*****