Aos 20 anos, a acadêmica de Direito Mariana Berto, alagoana, natural de Maceió (AL), já ostenta um feito raro entre jovens autores brasileiros: mais de 200 obras autorais publicadas em plataformas literárias de grande circulação como O Pensador e Recanto das Letras. Mas o número, embora impressionante, não é o que mais chama atenção em sua trajetória — e sim a profundidade estética e simbólica de sua escrita.

Literatura como enigma
Longe da literatura confessional que costuma dominar redes sociais, Mariana construiu uma voz autoral marcada pela densidade e pelo mistério. Suas narrativas, embora inspiradas em vivências reais, chegam ao leitor envoltas em camadas de metáforas, silêncios e enigmas. Cada texto é um convite à decifração — como se a autora revelasse justamente ao esconder.
Essa proposta ganha forma emblemática no e-book “Segredos Reais em Palavras Fictícias“, obra que marca um ponto de virada em sua carreira inicial. Nele, Mariana propõe um pacto literário ousado: expor acontecimentos íntimos sem jamais entregá-los em sua nudez factual. O resultado é uma escrita que não diz tudo, mas insinua o essencial, provocando no leitor um papel ativo na construção do sentido.
Entre o Direito e a ficção
Atualmente cursando Direito e atuando como correspondente jurídica, Mariana alia a precisão da linguagem técnica com a liberdade criativa da literatura. Essa formação jurídica não limita sua escrita — ao contrário, enriquece-a com uma leitura aguda da realidade social e humana.
“Entre o normativo e o poético, Mariana ocupa um lugar singular: o de uma jovem autora que transita entre mundos distintos com naturalidade e sensibilidade”, observa um de seus leitores mais assíduos.
Raízes literárias que vêm da infância
A afinidade com as palavras começou cedo. Ainda na infância, Mariana acompanhava uma tia professora durante a correção de provas escolares. O contato com os textos alheios, os erros, os acertos e a estrutura da linguagem despertaram nela um olhar crítico precoce. Mais tarde, ao mudar de cidade, outra tia a incentivou a escrever e ler em voz alta — prática que, embora lúdica, foi o primeiro ensaio da escritora que viria a se tornar.
Mariana costuma afirmar que seu amor pela escrita nasceu “desde o berço”. E sua história confirma: a literatura não foi uma escolha aleatória, mas uma vocação moldada desde cedo, que cresceu e se firmou como modo de existir e pensar o mundo.
A palavra como forma de investigação
Há uma característica marcante na produção literária de Mariana: o paradoxo entre o pessoal e o cifrado. Suas obras são profundamente íntimas, mas jamais explícitas. O leitor sabe que há ali uma verdade — mas essa verdade está protegida por véus de ficção.
Nesse sentido, Mariana reverte a lógica do imediatismo que marca grande parte da produção textual contemporânea. Em tempos de urgência, ela propõe uma literatura que resiste à pressa, que exige leitura atenta, escuta interior e tempo para decantar o não dito.
Uma promessa da literatura contemporânea
Aos 20 anos, Mariana Berto é mais do que uma jovem talentosa: é uma promessa sólida da literatura brasileira contemporânea. Seus mais de 200 textos e o sucesso inicial do seu e-book são apenas os primeiros marcos de uma carreira que tende a crescer em qualidade e reconhecimento.
Seu projeto literário, que une vivência pessoal, formação jurídica e ousadia estética, propõe uma escrita que não apenas narra, mas recria o real em forma de enigma. Mariana escreve para dizer o indizível — e, ao fazê-lo, nos lembra que a verdadeira literatura não é um espelho da realidade, mas uma chave secreta que nos ajuda a atravessá-la.