O deputado federal e pastor Otoni de Paula (MDB-RJ) fez um discurso na Câmara dos Deputados ao denunciar que quatro dos 121 mortos na megaoperação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. De acordo com ele, quatro jovens eram filhos de membros de sua igreja e não tinham qualquer envolvimento com o crime organizado.
Durante sua fala, Otoni criticou duramente o modo como as forças de segurança atuam nas comunidades. Assim, o deputado destacou o impacto do racismo estrutural nas abordagens policiais.
“Para muitos, jovens negros de favelas são como criminosos”, afirmou o deputado. Visivelmente abalado, ele relatou o medo que vive como pai de um jovem negro no Rio de Janeiro:
“Meu filho não anda de chinelo. Eu ensino a ele a andar bem vestido porque é preto. Somente depois que derem um tiro é que saberão que é filho de um preto deputado”, desabafou.
Otoni também condenou a postura de pessoas que comemoram mortes em operações policiais sem compreender a realidade das favelas. Ele afirmou que a sociedade precisa refletir sobre o valor da vida negra no Brasil.
De acordo com o balanço oficial das forças de segurança, 58 pessoas morreram no primeiro dia da operação (terça-feira, 28), sendo 54 suspeitos de tráfico e quatro policiais. No dia seguinte, mais 63 corpos foram encontrados em uma área de mata na Serra da Misericórdia, principal palco dos confrontos. Moradores relataram ter transportado os corpos até a Praça São Lucas, no Complexo da Penha.
As buscas continuam, e o número de vítimas pode aumentar. A operação também resultou na prisão de 113 pessoas — 33 de outros estados — e na apreensão de 91 fuzis, 26 pistolas, 14 explosivos e grande quantidade de drogas.
