A tentativa do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) de alterar o PL Antifacção é mais do que controversa — é um golpe contra o combate ao crime organizado. Em vez de fortalecer a Polícia Federal e integrar as forças de segurança, o relator quer subordinar a atuação da PF aos governadores. Assim, ele exclui o Ministério Público e limita a ação federal apenas “se o governo estadual deixar”.
A Polícia Federal não silenciou diante da manobra. Em nota pública divulgada nesta segunda-feira (10), a instituição expressou “preocupação” e classificou as mudanças como um risco real de enfraquecimento do enfrentamento às facções criminosas. Segundo a PF, o texto “compromete o interesse público” e desmonta a estrutura de cooperação que permitiu grandes operações nacionais.
O alerta é grave: sob as regras propostas por Derrite, investigações conjuntas dependeriam de autorização política. Isso abre precedente para obstrução de ações contra corrupção, tráfico e lavagem de dinheiro — crimes que muitas vezes envolvem agentes com influência nos próprios governos estaduais.
A corporação lembrou que, em agosto, conduziu a maior operação já realizada contra o crime organizado. As investigações revelaram um esquema bilionário de lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo. Com o texto de Derrite, operações desse porte ficariam sob ameaças ou teriam sua eficácia severamente limitada.
Em suma, o relatório do deputado não combate o crime — facilita sua sobrevivência. A proposta, vendida como “antifacção”, na prática, enfraquece o Estado e entrega o controle das investigações à conveniência política. Um retrocesso travestido de lei.
