O presidente Jair Bolsonaro entrou nesta quarta-feira (16) com um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisĂŁo do ministro Celso de Mello que determinou que o chefe do Executivo prestasse um depoimento presencial no âmbito das investigações que apuram se ele tentou interferir politicamente na PolĂcia Federal.
A defesa do presidente quer garantir o direito de Bolsonaro prestar o depoimento por escrito. Um dos precedentes do Supremo usados pela Advocacia-Geral da UniĂŁo (AGU) foi a decisĂŁo tomada em 2017, pelo ministro LuĂs Roberto Barroso, ao permitir que o entĂŁo presidente Michel Temer apresentasse esclarecimentos por escrito sobre uma investigação envolvendo irregularidades no setor portuário.
– Note-se: não se roga, aqui, a concessão de nenhum privilégio, mas, sim, tratamento rigorosamente simétrico àquele adotado para os mesmos atos em circunstâncias absolutamente idênticas em precedentes muito recentes desta mesma Egrégia Suprema Corte – afirmou a AGU ao STF.
A avaliação de integrantes do primeiro escalão do governo é que era preciso confrontar o tratamento diferenciado a Jair Bolsonaro em relação a outras presidentes que também prestaram depoimento.
No recurso, a AGU pede a reconsideração da decisão de Celso de Mello ou que a determinação de depoimento presencial seja suspensa, até que o recurso seja julgado pelo STF.
DEPOIMENTO PRESENCIAL
Na semana passada, Celso de Mello divulgou decisĂŁo em que contrariou o procurador-geral da RepĂşblica, Augusto Aras, e determinou que Bolsonaro prestasse depoimento pessoalmente, no inquĂ©rito que apura suposta interferĂŞncia na PolĂcia Federal, aberto apĂłs acusação do ex-ministro Sergio Moro, da Justiça e Segurança PĂşblica.
O decano do Supremo não adotou o procedimento sugerido pelo chefe do Ministério Público Federal, para quem o depoimento poderia ser tomado por escrito.
Em sua decisĂŁo, Celso de Mello destacou que a possibilidade de depoimento por escrito Ă© uma prerrogativa de presidentes apenas quando sĂŁo testemunhas, e nĂŁo quando sĂŁo investigados – o que Ă© o caso. O inquĂ©rito foi aberto em abril apĂłs Sergio Moro pedir demissĂŁo apontando interferĂŞncia indevida na PF. O ex-ministro entregou o cargo por nĂŁo concordar com a demissĂŁo do diretor-geral da PF, MaurĂcio Valeixo, determinada por Bolsonaro
Relator do caso, Celso de Mello também autorizou Moro a enviar perguntas a serem respondidas pelo presidente. Os questionamentos deverão ser feitos por meio dos advogados do ex-ministro.
Em junho, em declaração no Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse acreditar no arquivamento do inquérito e que não via problemas em prestar depoimento pessoalmente.
“Eu acho que esse inquĂ©rito que está na mĂŁo do senhor [ministro] Celso de Mello [do Supremo Tribunal Federal] vai ser arquivado. A PF vai me ouvir, estĂŁo decidindo se vai ser presencial ou por escrito, para mim tanto faz. O cara, por escrito, eu sei que ele tem segurança enorme na resposta porque nĂŁo vai titubear. Ao vivo pode titubear, mas eu nĂŁo estou preocupado com isso. Posso conversar presencialmente com a PolĂcia Federal, sem problema nenhum – disse o presidente, na ocasiĂŁo.
Celso de Mello está de licença mĂ©dica desde o dia 19 de agosto. No entanto, o decano da Corte, que se aposenta em novembro, cita artigo da Lei Orgânica da Magistratura (Loman) que lhe permite divulgar decisões que já estavam prontas antes do perĂodo do afastamento. A decisĂŁo de Celso Ă© datada do dia 18 de agosto.