Com base nas informações do Sivep-Gripe (Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica), o pesquisador Jessem Orellana, da Fiocruz/Amazônia, alerta que de agosto a outubro houve uma disparada no número de casos de mortes por coronavírus (covid-19) em Manaus.
“Só em agosto, setembro e outubro, ocorreram pelo menos 504 mortes, sendo que de agosto (119) para outubro (234) o total de mortos quase dobrou, com aumento de 97% no número de vítimas fatais”, afirmou o cientista.
Os números são semelhantes aos divulgados pela FVS-AM (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas). Na última quarta-feira, dia 4, o boletim diário da instituição revelou que no mesmo período, citado pelo pesquisador, foram 586 mortes por covid-19 na cidade.
Em agosto foram notificadas 160 mortes, setembro 189 e outubro 237. Entre agosto e outubro o crescimento foi de 148%.
Porém, os dados da FVS-AM levam em conta registros na data e após o óbito. Além disso, houve a reclassificação feita pela Semsa (Secretaria Municipal de Saúde de Manaus), que acabou juntando ocorrência anteriores aos mapas atuais.
Por conseguinte, o órgão sustenta que o aumento no número de mortes se deve ao novo critério de notificação. Para mais, o governo estadual já atribuiu ao aumento dos casos às campanhas políticas e o período de chuva.
Por sua vez, o pesquisador da Fiocruz diz que houve o prematuro e veloz relaxamento nas medidas de distanciamento físico e nas precauções sanitárias com reabertura gradual do comércio.
“Daí em diante, os falsos rumores de que a população de Manaus haveria alcançado a imunidade de rebanho pela via natural e a improcedente narrativa das autoridades sanitárias de um suposto controle da epidemia, levou a população a relaxar ainda mais em relação as medidas de distanciamento físico e ao uso de máscaras”, argumentou.
A partir de agosto, o pesquisador lembrou que o Governo do Amazonas autorizou o retorno às aulas presenciais de milhares de alunos da rede pública, de professores e de trabalhadores do setor.
“Nesse mesmo período, aproximadamente 4 mil professores apresentaram resultado reagente para o novo coronavírus. Desses, em torno de 800 tiveram resultados compatíveis com infecção recente, provavelmente associados ao retorno das aulas presenciais”, disse.
Já em setembro, Orellana disse que era tarde para evitar a segunda onda da doença na capital. A situação viria a se agravar com a retomada das “atividades turística, festas clandestinas, praias e balneários lotados, bares e restaurantes com lotação além do permitido em diferentes lugares da cidade”.
Para fechar o mês, ele diz que ocorreram as convenções partidárias e o retorno às aulas presenciais de outras dezenas de milhares de alunos do ensino fundamental da rede pública, fatos que marcaram o fim de setembro e o início de outubro.
“O agravamento da epidemia em Manaus era nítido e traduzido pelo abrupto aumento nas internações de casos suspeitos/confirmados de covid-19, com pacientes ora drenando para leitos de UTI (unidade de terapia intensiva), ora para o cemitério”.