Pesquisadores da UnB (Universidade de Brasília) e de outras instituições do país atestaram que o Amazonas já vive a segunda onda do coronavírus (covid-19). Nas mesmas pesquisas aparece também a maioria dos estados na segunda onda. O resultado saiu nesta nesta terça (24).
De acordo com o estudo “Situação da pandemia de covid-19 no Brasil”, no Amazonas 28% da população foi contaminada. O percentual também inclui os casos assintomáticos.
Os pesquisadores concluem ainda que todos os estados estão longe de alcançar uma possível imunidade de rebanho. Portanto, para atingir a esse estágio, entre 60% e 70% da população teria que estar infectada.
“Permitir que a pandemia se alastre até atingir a imunidade de rebanho implicaria número de mortes muito maior do que o já observado até hoje, com uma forte saturação do sistema de saúde, que por sua vez aumentaria ainda mais o número de mortes”, dizem os pesquisadores no documento.
De acordo com eles, a situação no Brasil se deteriorou fortemente nas últimas duas semanas. Por isso, o início de uma segunda onda de crescimento de casos já é evidente em quase todos os estados.
Dessa forma, o cenário é particularmente preocupante nas regiões mais populosas do país.
O quadro se agravou, contudo, não só pela queda dos níveis de isolamento social, mas também pela ausência de campanhas de esclarecimento. Contribuiu para esse quadro, entretanto, a falsa sensação de segurança disseminada na população.
“O quadro é particularmente preocupante, pois esperam dificuldades em adotar medidas mais duras de mitigação da pandemia”, alertam. E sugerem: “O fechamento de atividades não essenciais, única arma efetiva até uma vacinação em massa da população do país”.
Novos casos
Nos últimos sete dias, o Amazonas registrou 100 novos casos para cada 100 mil habitantes, considerado um número alto. A pior situação é a de Santa Catarina, que atingiu 422 casos.
O dado mais explicativo é a relação do número de mortes para milhão de habitantes. Os maiores índices, no entanto, estão no Distrito Federal (1.282), Rio de Janeiro (1.273), Roraima (1.189). Mato Grosso (1.157) e Amazonas (1.153).
“No Brasil como um todo temos 793 mortos por milhão, estando ainda iniciando a segunda onda”, diz o estudo.
Para se ter uma ideia, nos países que enfrentam a segunda onda a relação começa com os Estados Unidos (791 mortes/milhão) e França (746 mortes/milhão). Em seguida vêm Alemanha (170 mortes/milhão), Espanha (911 mortes/milhão) e Israel (304 mortes por milhão).
Potencial de propagação
A avaliação de que a segunda onda da covid-19 já chegou é demonstrada pelo chamado fator Rt. É esse o fator que determina o potencial de propagação de um vírus. Se ele é igual a 1, significa que cada paciente infectado contamina mais uma pessoa.
A partir da média móvel de casos sobre 14 dias, isso para reduzir flutuações estatísticas, o Amazonas registrou o fator Rt de 1,2.
“Percebemos que em muitos estados o Rt já está claramente acima de 1, indicando o início de uma segunda onda”, concluíram.
Contaminação
Os pesquisadores alertam que há muitos relatos de contaminação em restaurantes, confraternizações e cantinas existentes nos locais de trabalho. Nesses lugares, contudo, as pessoas ficam expostas ao retirar a máscara de proteção para se alimentar.
“Já escolas apresentam todos esses riscos, pois alunos e professores permanecem em ambientes muitas vezes com pouca ventilação”, dizem. E acrescentam mais problema: “Ar condicionado central, sabidamente favorecedores da transmissão do vírus”.
Por causa da retomada da pandemia, os pesquisadores dizem que se torna urgente a tomada de medidas de controle ainda nessa fase inicial. “Para assim, evitar consequências graves como a saturação do sistema de saúde e um ainda maior número de mortes por falta de atendimento adequado.”
“Enquanto não for possível vacinar uma grande parcela da população contra o sars-cov-2, as medidas de contenção são as mesmas adotadas desde o início da pandemia no Brasil no final do mês de fevereiro”.
Além da UnB, participaram do estudo pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Colaborou também o IFBA (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia).
Além desses, a UFSJ ((Universidade Federal de São João del Rei) e da Uneb (Universidade do Estado da Bahia).