O aumento do número de casos e óbitos por Covid-19 no Amazonas expõe a crise do sistema de saúde perante as desigualdades no estado.
É o que defende o Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) em nota técnica publicada na segunda-feira (25).
Conforme os pesquisadores, o fator que causou o aumento do alcance do coronavírus no Amazonas, pode ser o colapso do sistema de saúde diante das desigualdades sociais e das necessidades de saúde da população.
Um terceiro movimento foi o espalhamento do número de casos pelos rios amazônicos em direção ao interior, sem deixar de destacar outros vetores de introdução do vírus via tríplice fronteira e municípios fronteiriços com os estados do Pará, Rondônia, Roraima e Acre, simultaneamente”, conforme nota.
Leitos insuficientes
A expansão do número de leitos de UTI ocorreu de modo desproporcional ao aumento do número de casos confirmados, segundo a Fiocruz. Os leitos exclusivos da rede privada e pública voltaram a 95% de ocupação em dezembro de 2020, assim como em abril de 2020. Para os pesquisadores, não os hospitais de campanha do estado e do município não deveriam ter sido fechados com a leve redução de casos.
“Não houve um preparo adequado da rede assistencial de urgência e emergência para o enfrentamento ao desafio pandêmico. À medida em que houvesse a provisão oportuna de serviços assistenciais, o sistema de saúde teria capacidade de se reorganizar, mediante lições aprendidas com a doença (FRIDELL et al., 2020).
Houve a abertura e posterior fechamento de dois hospitais de campanha (um de gestão municipal e outro estadual) com a provisão de 170 leitos clínicos para casos moderados, sendo 53 destes exclusivos para populações indígenas”, descreve o documento.
Os pesquisadores da Fiocruz Amazônia ressaltam ainda que a produção independente de oxigênio em mini-usinas no interior do Estado tem fortalecido o fornecimento para os municípios menos assistidos com o serviço de saúde pública.
“Além disso, as limitações na produção e abastecimento de oxigênio no Estado, contribuíram para o colapso do sistema de saúde. Segundo o COSEMS, atualmente Tabatinga, Maués e São Gabriel da Cachoeira possuem mini-usinas para produção de oxigênio hospitalar, e estão sendo adquiridas pelo Estado ou doadas para equipar hospitais da rede pública do Amazonas nos municípios de Coari, Autazes, Tefé, Eirunepé, Lábrea e Carauari, por programas como “Unidos contra a Covid-19” da Fiocruz, Hospital Sírio-Libanês, Todos pela Saúde, entre outros. A produção de mini-usinas independentes para produção de oxigênio agiliza o tratamento dos pacientes e brinda a assistência necessária à rede pública”, conta a nota.
A pesquisa
O relatório foi subdividido em quatro partes: a primeira aborda as associações espaciais entre notificações de SRAG e notificação de casos confirmados de Covid-19; a segunda analisa a notificação da SRAG em regiões do Estado; a terceira aborda a caracterização genética do SARS-CoV-2 circulante no Amazonas; e, a quarta apresenta considerações e reflexões sobre a vacinação no Estado.
O documento foi elaborado pelos pesquisadores Bernardino Albuquerque, Carlos Machado de Freitas, Christovam Barcellos, Daniel Antunes Maciel Villela, Felipe Gomes Naveca, Fernando Herkrath, José Joaquín Carvajal Cortés, Leonardo Soares Bastos, Marcelo Ferreira da Costa Gomes, Margareth Crisóstomo Portela, Rodrigo Tobias de Sousa Lima, Sérgio Luiz Bessa Luz, e Valcler Rangel Fernandes, do ILMD/Fiocruz Amazônia e do Observatório Fiocruz Covid-19.