Dois artigos publicados recentemente em periódicos científicos de renome acenderam o alerta para o surto da chamada gripe do tomate, ou febre do tomate, entre crianças na Índia. Apesar de os sintomas estarem claramente descritos pelos cientistas, ainda não há evidências da origem da doença.
Vale destacar, de antemão, que a enfermidade nada tem a ver com o consumo de tomates. Ela recebeu esse nome devido às bolhas que se formam na pele, que apresentam um aspecto avermelhado e podem chegar ao tamanho de um tomate, conforme descreveram os autores de um artigo publicado em 17 de agosto na revista científica The Lancet.
Os pesquisadores envolvidos nessa publicação relacionam as causas da gripe do tomate a duas hipóteses: a primeira é que a doença esteja associada a quadros anteriores de dengue e chikungunya, o que, nesse caso, significa que não se trataria de uma nova infecção viral.
Os principais sintomas observados nas crianças diagnosticadas com a gripe do tomate envolvem febre alta, erupções cutâneas e dor intensa nas articulações, características clínicas semelhantes às de chikungunya.
Outros sintomas, comuns aos da dengue, também foram identificados, como: fadiga, náuseas, vômitos, diarreia, febre, desidratação, inchaço das articulações e dores no corpo.
Cientistas autores de outro artigo, publicado em 12 julho na revista Immunity, Inflammation and Disease, afirmam que a gripe do tomate não é uma doença inédita.
Eles relatam que a doença foi registrada pela primeira vez em 2007, em Kerala, o mesmo estado indiano onde se concentra grande parte dos casos do surto atual. Na época, os pacientes também haviam sido diagnosticados anteriormente com chikungunya.
“O vírus pode persistir em seu sistema por muitas semanas, mesmo após os sinais e sintomas da doença terem diminuído. Kerala registrou mais de 58 mortes e hospitalizações devido a intoxicação alimentar, que foi identificada retrospectivamente como gripe do tomate”, afirmaram os pesquisadores na publicação.
Evolução da doença mão-pé-boca
A segunda hipótese apresentada no artigo publicado na revista The Lancet é que a gripe do tomate pode ter sido causada por uma nova variante do vírus responsável pela doença mão-pé-boca, enfermidade altamente contagiosa que acomete principalmente crianças de até 5 anos, a mesma faixa etária do surto que acontece na Índia.
Nesse caso, os pesquisadores advertem que, se realmente se tratar de uma nova cepa, a gripe do tomate poderá representar um grande risco para as crianças, dado o seu potencial de transmissibilidade, o que poderia estender o problema também para a população adulta.
“As crianças correm maior risco de exposição à gripe do tomate, pois as infecções virais são comuns nessa faixa etária, e é provável que a disseminação ocorra por meio de contato próximo. As crianças pequenas também são propensas a essa infecção por usarem fralda, tocarem superfícies sujas, bem como por colocarem coisas diretamente na boca”, alerta a publicação.
Os pesquisadores classificam a gripe do tomate de “muito contagiosa” e recomendam que seja cumprido um isolamento de até sete dias, contados a partir do início dos sintomas, para os casos confirmados ou suspeitos.
Não há tratamento específico para a doença, assim como não existe nenhuma vacina disponível para prevenir a infecção. A gripe do tomate é do tipo autolimitante, de acordo com os cientistas, o que quer dizer que há um começo, meio e fim.