A multa aplicada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na última terça-feira (18) ao jovem influenciador Agenor Tupinambá, famoso por sua “amizade” com uma capivara, gerou a indignação de muitas pessoas nas redes sociais.
Agenor trabalha e vive em uma fazenda no município de Autazes, no Amazonas, e se tornou um fenômeno no TikTok ao exibir sua rotina com Filó, a capivara quem mantém como um animal de estimação. Nas postagens, costuma mostrar momentos considerados “fofos” com o mamífero roedor e outros animais.
Apesar das boas intenções do jovem para com os bichos, o Ibama destaca inúmeros problemas no fato de animais silvestres serem mantidas como “pets”. Através das redes sociais, diante da grande repercussão que a multa de mais de R$ 17 mil aplicada contra o jovem casou, o instituto decidiu fazer uma explicação detalhada dos motivos que levaram à autuação.
“O jovem estudante de agronomia ficou conhecido por publicar vídeos em que interage com animais silvestres da Amazônia como cobras, capivara, preguiça-real, paca, papagaio, entre outros. Ao analisar o conteúdo das redes sociais do estudante, agentes ambientais do Ibama constataram que os animais eram retirados da vida livre e exibidos em situações incompatíveis com os hábitos das espécies como por exemplo banho com produtos de higiene humana, uso de roupas e ornamentos”, diz o instituto no início do “fio” explicativo publicado no Twitter.
De acordo com o Ibama, Agenor foi autuado por 4 motivos diferentes: morte de uma preguiça-real (que ele mesmo teria admitido); prática de maus-tratos contra animal silvestre (preguiça real); uso de espécimes da fauna silvestre sem a devida permissão de autoridade competente (capivara e papagaio); e exploração da imagem de animal silvestre mantido em situação de abuso (capivara) e irregularmente em cativeiro.
O Ibama esclarece que, apesar de muitos acharem que o jovem trata “bem” os animais, a prática de maus-tratos consiste, por exemplo, no fato dos bichos que deveriam viver na natureza serem colocados em ambiente doméstico.
“A introdução de hábitos típicos de ambiente doméstico em espécies silvestres inviabiliza capacidade de sobrevivência na natureza (…) O Ibama defende, por determinação legal, que animais silvestres sejam mantidos em vida livre, onde prestam serviços ambientais de importância incalculável para a manutenção de um meio ambiente equilibrado”, diz o órgão.
“Também é importante deixar claro que por mais que as pessoas acreditem estar tratando bem um animal silvestre, mesmo que ele tenha sido resgatado, está indo de encontro à natureza do animal, que é de conviver com os seus em liberdade. No caso de resgate de animais silvestres encontrados na natureza machucados ou filhotes, é necessário comunicar a posse para as instituições competentes e, assim, definir com base na lei o destino do animal silvestre”, emenda.
O instituto informa, ainda, que “não retirou até o momento nenhum animal que está em posse de Agenor Tupinambá” e que “irá, primeiramente, realizar uma diligência para averiguar o estado de saúde e condições dos animais” e, a partir de laudos técnicos dos fiscais, “tomará as medidas legais cabíveis”.
Outro lado
Agenor afirmou que recebeu a multa com surpresa e, mesmo negando as acusações, atribui a denúncia à fama que ganhou nas redes.
“Cresci no meio do mato e lá nasceu a minha paixão pelos animais. Eu só saio de lá para estudar agronomia na capital, curso que escolhi para poder servi-los ainda mais. De todas as surpresas que a fama na internet me trouxe, eu jamais imaginei que seria acusado de abuso, maus-tratos e exploração contra animais. Também fui acusado de matar um animal do qual todos são testemunhas que só dediquei amor e fiz tudo o que podia para preservar sua vida”, declarou o influenciador digital em sua conta no Instagram.
As boas intenções de Agenor são incontestáveis. No entanto, nem sempre as práticas que decorrem delas estão de acordo com o que determina a ciência ou a Justiça. Na mesma notificação do Ibama, o influenciador é requisitado a entregar a capivara Filó e a papagaio Rosa a um centro de tratamento animal. De acordo com o órgão, ele teria retirado os animais do habitat natural. Agenor alega que resgatou a capivara de uma situação em que sua vida estava vulnerável e que, desde então, ambos desenvolveram uma relação de amizade que não poderia ser cortada.
“Se tem alguém que mora no habitat natural de outro, esse alguém sou eu, e não os animais. Eu abro a janela e lá está o rio, a floresta e os animais. Eu que estou de passagem”, afirmou.
Agenor acatou determinações da notificação e retirou do ar as postagens indicadas. Com um prazo de 20 dias para apresentar sua defesa em relação às acusações e, consequentemente ao pagamento da multa, tem recebido acompanhamento jurídico de uma parlamentar. “Lamento profundamente o que está acontecendo e só eu sei a dor que estou sentindo”, concluiu.
*Revista forúm