Uma potencial tensa reunião entre os presidentes de Brasil e Estados Unidos é esperada para esta quinta-feira (09/06) na Cúpula das Américas, que começou segunda e vai até esta sexta-feira, em Los Angeles. Esta será a primeira vez que Jair Bolsonaro, um admirador declarado do ex-mandatário americano republicano Donald Trump, se encontrará com o democrata Joe Biden.
A primeira reunião bilateral entre Bolsonaro e Biden ocorrerá, portanto, um ano e meio depois que o democrata assumiu o governo dos EUA. Após Trump ser derrotado na eleição de novebro de 2020, Bolsonaro não escondeu sua insatisfação com a vitória de Biden.
O presidente americano, por outro lado, atĂ© mesmo antes de ser eleito, fez advertĂŞncias contra a polĂtica ambiental do lĂder brasileiro.
Quando Bolsonaro aceitou o convite para a cĂşpula, a agĂŞncia de notĂcias americana AP informou que ele havia pedido para Biden nĂŁo questioná-lo sobre seus constantes ataques contra o sistema eleitoral brasileiro. Na ocasiĂŁo, a AP citou trĂŞs ministros do gabinete de Bolsonaro sob a condição de anonimato.
O conselheiro de segurança nacional de Biden, Jake Sullivan, negou que o presidente americano tivesse concordado com quaisquer condições para o encontro com o brasileiro.
Segundo Sullivan, nĂŁo haverá temas proibidos na conversa e os dois lĂderes devem abordar o tema de “eleições livres, transparentes e democráticas”.
Os americanos ofereceram a reuniĂŁo bilateral para Bolsonaro como forma de atrair a presença do presidente brasileiro para a cĂşpula e minimizar a ausĂŞncia de outros lĂderes que boicotaram o encontro.
Concorrendo à reeleição, Bolsonaro tem aparecido em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ainda nesta quinta-feira, a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, deve se reunir com lĂderes caribenhos para discutir a proteção ambiental e as mudanças climáticas. Já a primeira-dama, Jill Biden, será a anfitriĂŁ de um brunch para os cĂ´njuges dos lĂderes.
Na sexta-feira, Biden deverá falar sobre migração, uma questão chave para o seu governo, já que cada vez mais pessoas têm fugido da violência e das dificuldades econômicas na América Latina e, com isso, rumado para a fronteira dos EUA com o México.
Biden conceituou seu novo plano migratĂłrio como detentor de uma “abordagem inovadora e integrada”, com responsabilidade compartilhada em todo o hemisfĂ©rio. Ainda assim, entretanto, forneceu poucos detalhes sobre o tema.
Relações com a China em foco
Nesta quarta-feira, uma das principais pautas do discurso de Biden foi o estreitamento das relações dos paĂses latino-americanos com a China. Devido a isso, uma nova proposta econĂ´mica para a regiĂŁo foi anunciada pelo presidente americano, a Parceria das AmĂ©ricas para a Prosperidade EconĂ´mica.
A fala de Biden enfatizou o maior envolvimento econĂ´mico dos EUA na AmĂ©rica Latina, incluindo mais investimentos e reforçando os acordos comerciais já existentes, em uma clara tentativa de afastar os lĂderes latino-americanos das promessas chinesas de investimentos em projetos de infraestrutura de larga escala na regiĂŁo. Ele tambĂ©m insistiu para que os governantes preservem e fortaleçam a democracia.
A iniciativa dos EUA visa a recuperação econĂ´mica e o investimento em paĂses das AmĂ©ricas Central, do Sul e Caribe, a exemplo do revigoramento de instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, cadeias de suprimentos, comĂ©rcio sustentável e energia limpa.
“Temos que investir para estarmos certos de que nosso comĂ©rcio seja sustentável e responsável na criação de cadeias de abastecimento mais resistentes, mais seguras e mais sustentáveis”, disse Biden nesta quarta-feira, durante o evento oficial de abertura da CĂşpula das AmĂ©ricas.
Conforme um funcionário da administração do governo americano, porĂ©m, os esforços se concentrarĂŁo primeiramente nos “parceiros com os mesmos interesses” que já tĂŞm acordos comerciais com os EUA, em negociações que devem começar nos prĂłximos meses.
Edição sem vários lĂderes
Sem a participação de Cuba, Nicarágua e Venezuela, paĂses considerados ditaduras pelo governo americano, outros lĂderes decidiram nĂŁo participar da edição deste ano da CĂşpula das AmĂ©ricas.
Em protesto ao fato de os EUA nĂŁo terem convidado lĂderes dessas trĂŞs nações, os presidentes de BolĂvia, Guatemala, Honduras e MĂ©xico nĂŁo viajaram a Los Angeles – alĂ©m desses, o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, cancelou a participação por ter contraĂdo covid-19.
O presidente mexicano, Andres Manuel Lopez Obrador, por exemplo, enviou o ministro das Relações Exteriores. A ação foi seguida por outros lĂderes, o que, de certa forma, desacelera o anseio de Biden por um restabelecimento de relações mais fortes entre os EUA e a AmĂ©rica Latina.
Convocada pela primeira vez pelo então presidente americano Bill Clinton, em Miami, em 1994, a Cúpula das Américas está em sua nona edição. A ideia dos encontros é fortalecer o crescimento econômico e a prosperidade em todo o continente americano por meio de valores democráticos e aumento das relações comerciais.
Desde então, as outras edições ocorreram em Santiago, Chile (1998); Quebec, Canadá (2001); Mar del Plata, Argentina (2005); Port of Spain, Trinidad e Tobago (2009); Cartagena, Colômbia (2012); Cidade do Panamá, Panamá (2015); e Lima, Peru (2018).