Estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) para conhecer as características do caramuri (Caramuri Pouteria elegans), um fruto nativo da Amazônia, demonstrou alto valor nutricional como fonte de vitamina C – o triplo da laranja –, e quantidades significativas de minerais sobressaindo potássio e magnésio. Para os pesquisadores, o resultado indica que o caramuri tem potencial para ser utilizado pela indústria alimentícia e farmacêutica.
O caramuri é uma árvore de terra firme que alcança de seis a dez metros de altura, com frutificação de setembro a fevereiro e pouco conhecido pela população. O Fruto de cor amarelo quando maduro é mais comum na região de Maués (a 276 Km de Manaus-AM), polpa brancacenta, doce e de bom sabor e costumeiramente consumido “in natura”, mas pode ser consumido em licores, balas, sucos e diversas receitas. De cheiro doce e aroma específico, pertence à família Sapotaceae e chega a ser comparado ao abiu, fruto do mesmo grupo.
Publicado recentemente no International Journal of Food Properties, o artigo Aromatic and nutritional profile of an Amazonian autochthonous species, Caramuri Pouteriaelegans (A.DC.) Baehni, o artigo é assinado pelos pesquisadores do Inpa Jaime Aguiar, Francisca Souza e Dionísia Nagahama, além do bolsista de pós-doutorado do Inpa, Edson Silva, e o professor do Centro de Estudos Superiores de Tefé (Cest – UEA) Raimundo Junior. O trabalho é resultado do projeto Frutos Amazônicos para Produção de Alimentos Funcionais (2015-2018) – caramuri, açaí, camu-camu e cubiu, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
“Procuramos estudar um fruto desse tipo para torná-lo conhecido pela população e ter incentivo para produção do fruto na agronomia”, disse Francisca Souza. “Vimos que a polpa do caramuri possui potencial regulador de distúrbios metabólicos como a hipertensão”, explica a pesquisadora e líder do Grupo de Pesquisa Alimentos e Nutrição na Amazônia do Inpa, Francisca Souza.
Com a maior biodiversidade do planeta, a Amazônia possui espécies frutíferas pouco conhecidas mas que possuem aportes nutricionais (vitaminas e minerais) igual ou superior aos encontrados em frutas comercializadas no mercado. “Por exemplo, o caramuri possui 143,07 miligramas de vitamina C para cada 100 gramas de polpa, o valor é superior ao da laranja – cerca de 40 mg – limão e mamão”, disse Aguiar.
O mais alto teor de vitamina C já encontrado é do camu-camu – 2.880 mg/100g de vitamina C. O Inpa trabalha desde a década de 1980 com o camu-camu, com o qual fez melhoramento genético da semente e trouxe a produção típica das várzeas e curso dos rios da Amazônia para a terra firme.
“Nosso projeto agrega valor aos frutos da Amazônia. Só é possível fazer o processo de preservação da diversidade por meio do conhecimento. Agora, estamos na parte de bioprospecção para que no futuro possamos fazer as aplicações”, explica o pós- doutorando integrante do projeto, Edson da Silva.
Técnica e resultados
O grupo utilizou uma das técnicas mais atuais em relação à identificação e extração de compostos voláteis, a Headspace, que associada às análises do Cromatógrafo Gasoso acoplado ao Espectro de Massas (CGMS), permitiu examinar os gases e substâncias presentes na polpa do caramuri.
“Verificou-se uma série de compostos, principalmente os pertencentes à classe dos monoterpenos e terpenóides, compostos são não só de interesse para a indústria alimentícia como também para a indústria farmacêutica. No caso dos terpenos, compostos majoritários encontrados no fruto, eles atuam na formação de cor dos alimentos, composição que age no processo antioxidante que é o sequestro de radicais livres”, contou Silva.
As substâncias encontradas podem ser usadas como agente antimicrobiano e como repelente, já que possui o composto citronelene.
“O fruto destaca-se por ser uma fonte vitaminas A, B e especialmente de vitamina C, minerais, como magnésio e potássio que possui função primordial no metabolismo celular”, explicou Francisca Souza.
Para o pesquisador Jaime Aguiar, a caracterização de espécies nativas como o caramuri traz a viabilização de novas matérias-primas para a indústria alimentícia por meio da fonte de nutrientes de alto valor biológico e aromático. “Os próximos passos da pesquisa serão a extração dos principais compostos em conjunto com os efeitos no organismo biológico e o estudo do processo oxidativo”.
Saiba Mais
O Inpa é pioneiro no estudo de frutos amazônicos e possui uma tabela de composição de alimentos de bioprospecção em torno de 70 espécies diferentes, disse Jaime Aguiar. Atualmente são desenvolvidas pesquisas com Caramuri, Camu-camu, taperebá, araçá-boi, hortaliças e Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC).