Manaus – Por conta do dólar e da cotação do petróleo, o gás de cozinha sofreu um reajuste de 6%. Em 2020, o gás fechou o ano com alta de 9,24%, mais que o dobro da inflação de 4,52% durante o ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Economistas criticam a falta de um órgão para fiscalizar o aumento do item básico e aconselham o racionamento do gás de cozinha.
Ainda de acordo com o levantamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE, nos últimos 40 dias a Petrobras promoveu dois aumentos no Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o gás de cozinha. Em março de 2020, o preço médio do botijão de gás de 13 quilogramas estava em R$ 69,00.
Em Manaus, segundo uma pesquisa do EM TEMPO, o preço do botijão de 13 quilogramas (kg) para troca varia entre R$ 85,00 e R$ 90,00. Já o botijão completo, está em R$ 195,00. O de 10 kg completo se encontra em R$ 180,00, o de 8 kg em R$ 170,00 e o de 5 kg em R$ 150,00.
A professora aposentada Cejane da Silva afirma estar insatisfeita com o valor do botijão, ainda mais em meio à pandemia. “Os itens básicos estão mais caros, como alimentação, e agora o gás. Não tem como ficar sem os dois. Agora, temos que nos reajustar, mas fica difícil para o nosso bolso”, contesta.
O técnico em contabilidade Osmário Xavier Junior é outro consumidor que se encontra indignado com o aumento. Ele diz que a situação é complicada, principalmente para as famílias com menor poder aquisitivo. “De certa forma, atinge todos, mas, para outros, o problema é mais acentuado. É muito ruim essa inflação, fruto deste ambiente de pandemia. Isso deve ser observado pelo governo para que não comprometa as condições básicas de boa parte da sociedade”, salienta.
Segundo a economista Denise Kassama o anúncio da Petrobras em aumentar os preços atinge principalmente as famílias mais necessitadas, que já estão em difícil situação por conta crise econômica. Ela explica que a política de preços da Petrobrás se pauta no mercado internacional e que, por isso os constantes aumentos na taxa do dólar oneraram o valor do produto importado. Para Kassama é importante ressaltar que o preço do gás que chega na casa da população amazonense não é determinado somente pela refinaria.
A economista também esclarece que a Petrobras geralmente anuncia o aumento, porém só responde por cerca de 39% do preço do produto. Existem mais cerca de 21% do valor que se divide entre impostos federais e 3% entre o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS). Outros 18% são do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e ainda existem os custos e o lucro das distribuidoras, chegando a 40%. Com essa faixa das distribuidoras, existem diferenças de valores no item ofertado em Manaus.
Kassama ressalta que não existe teto para o aumento dos preços, porque as definições estão nas mãos da refinaria, que detém o monopólio da exploração, aquisição e venda do GLP. “O que está faltando é a sensibilidade na política tributária, considerando que este produto é fundamental para as famílias. Uma redução na carga tributária poderia contribuir para a redução no preço final do produto”, sugere.
Reajuste recorrente
De acordo com o economista Inaldo Seixas, só em 2020, o gás de cozinha sofreu reajuste no preço por dez vezes, fechando o ano com aumento acumulado de 21,9%, mais que quadriplicando a inflação calculada para todo o ano, que ficou em 4,52%. Segundo ele, mesmo que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) regule o mercado, falta um órgão para limitar um teto no aumento.
Além disso, confirmando a pesquisa do EM TEMPO sobre o preço em Manaus, Seixas avalia que o valor seja ainda maior no interior. “Com esse aumento de 6% em janeiro, se estima que o botijão de gás gire, na média, em torno de R$ 90,00 na capital do Amazonas e no interior este preço será muito mais elevado devido as dificuldades impostas pela logística regional”, avalia.
Atrelado ao fim do auxílio emergencial e ao desemprego causado pela pandemia, o alto preço faz com que famílias amazonenses de baixa renda acabem cozinhando à lenha, relata Seixas, se tratando de ‘uma regressão social’ em sua visão. Ele diz que não há o que fazer em relação ao isolamento social, é nromal que a população acabe consumindo mais gás ao cozinhar.
Para o economista Sostenes Cruz, além do fator do dólar e do o preço internacional das commodities, existe também uma prova de que o Brasil não produz o suficiente para abastecer o mercado consumidor interno e que há um lucro alto dos donos de postos de comercialização no processo da saída da refinaria até chegar à casa do consumidor.
Racionamento
Os economistas mostram que o momento é de apertar os cintos para não ficar na mão. “Existem duas maneiras de conseguir administrar essa situação. Uma é o racionamento, que força a população a consumir menos e a outra é a racionalização, que o povo terá que aprender como tirar melhor proveito do combustível de que dispõe, buscando alternativas ao cozinhar os alimentos, incluindo o carvão e a madeira, subtraída de diversas fontes”, aconselha Seixas.