Sob pressão dos investidores, o Conselho de Administração da Petrobras autorizou um novo reajuste no preço do diesel. O valor ainda não foi definido, mas deve superar 10% e começar a valer a partir da próxima semana. O último aumento da estatal foi de 8,9%, no dia 9 de maio. Segundo dados da Associação Brasileira de Importadores de Combustível (Abicom), a defasagem no preço é de 18%, que equivale a R$ 1,08.
A reunião que autorizou o aumento estava programada para acontecer no dia 29 de junho, mas foi antecipada às pressas para o feriado de ontem. A gasolina também registra uma defasagem de 14% no valor, na ordem de R$ 0,67. O último aumento nos preços domésticos aconteceu há quase 100 dias.
A estatal alega que precisa praticar os preços internacionais, acompanhando o petróleo e seus derivados, que estão em alta. A empresa aponta ainda que, se insistir em segurar os preços artificialmente, os importadores privados podem desistir de atuar no Brasil, o que levaria à escassez de combustível, gerando risco para o abastecimento interno.
Aumentos
O economista Newton Marques explicou não ser possível continuar absorvendo esses aumentos. “Por enquanto estavam cedendo a esses apelos que o governo tem feito, e isso é um problema. A política de preços de reajuste dos derivados de petróleo está estabelecida conforme a decisão do Conselho de Administração. Se, por acaso, houver aumento no preço do barril do petróleo no mercado internacional e uma desvalorização cambial, não tem mais como evitar o reajuste”, disse.
A Petrobras vinha sendo pressionada pelo governo federal a conter o reajuste. A ideia inicial era de que o congelamento acontecesse até a aprovação, pelo Congresso, do projeto que limita o teto do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em 17% sobre os bens essenciais. Agora, que a medida já foi aprovada, o governo passou a solicitar que a empresa aguardasse os efeitos.
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), Paulo Tavares, apesar de aparentemente positiva, a medida também não deve resolver o problema, visto que o alívio fiscal deve ser compensado pela correção da defasagem atual.
“A Petrobras já está avisando que precisa fazer novos reajustes. Apesar dessa possível queda com a isenção do imposto, uma nova alta deve acontecer rapidamente. Não tem mais como a Petrobras segurar, eles precisam cumprir prazos”, destacou.
Popularidade ameaçada
O governo teme que o reajuste da Petrobras limite a redução dos preços prevista com o ICMS. A maior preocupação sobre os efeitos dos aumentos dos combustíveis é a popularidade do presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição. Segundo uma pesquisa de opinião divulgada recentemente pela BTG/FSB, o presidente é apontado pela população como o principal responsável pela disparada.
Durante a tradicional live semanal nas redes sociais durante a noite de ontem, Bolsonaro alegou que um reajuste por parte da Petrobras seria “interesse político para atingir o governo federal”.
“Eu espero que a Petrobras não queira aumentar o diesel e nem a gasolina nesses dias que nós estamos negociando aqui, e acertando com o parlamento. Tremenda boa vontade dos parlamentares nessa negociação. Eu só posso entender que um reajuste da Petrobras agora seria interesse político para atingir o governo federal”, disse o presidente.