O coronel Bernardo Romão Correa Neto, um dos réus investigados por envolvimento em uma suposta trama golpista para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder, negou qualquer participação em ações contra o Estado Democrático de Direito. Ele prestou depoimento na manhã desta segunda-feira (28) no Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com Romão, a reunião citada na investigação como ponto de articulação de um golpe foi, na verdade, uma confraternização informal entre integrantes das Forças Especiais do Exército.
“O que houve foi um encontro espontâneo entre amigos da mesma especialidade militar. Esses eventos ocorrem naturalmente quando militares da mesma guarnição estão reunidos”, afirmou o coronel.
Coronel nega organização de golpe
Ademais, o militar explicou que esteve em Brasília no dia 28 de novembro de 2022 para cumprir uma missão. A reunião com os colegas aconteceu, segundo ele, por coincidência, já que outros militares também estavam na capital. Romão reforçou que não houve organização prévia, nem qualquer discussão sobre golpe, sequestro ou execução de autoridades.
“Foi um encontro em um salão de festas, com paredes de vidro, pizza, refrigerante, conversas casuais e a presença de um porteiro. Nada ali indicava um plano estratégico de Forças Especiais”, declarou.
Carta contra comandante do Exército
O STF também questionou o coronel sobre uma carta crítica ao então comandante do Exército, general Freire Gomes, por ele não aderir ao suposto plano golpista. Todavia, Romão disse que apenas repassou o documento a pedido de um colega, após encontrá-lo em um grupo de mensagens no qual era membro, mas não participava ativamente.
Ele negou que o conteúdo tenha sido redigido durante o encontro entre os chamados “kids pretos”, apelido informal dado aos integrantes das Forças Especiais.
Conversas com Mauro Cid e mensagens cifradas
O coronel também foi confrontado com mensagens enviadas ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Nos textos, ele demonstra frustração com a suposta falta de ação do ex-presidente e das Forças Armadas. Romão se defendeu dizendo que as mensagens refletem conversas informais e preocupações pessoais, e que precisam interpretar seu tom de maneira leve.
Sobre um trecho onde diz ser necessário “influenciar” o alto comando militar, ele afirma que o termo completo seria “influenciar positivamente”, e que a Polícia Federal teria omitido a palavra “positivamente” do relatório. A intenção, segundo ele, era apenas promover esclarecimentos dentro da tropa sobre a situação do país, diante de expectativas geradas por uma mensagem oficial do Exército.
“Peço desculpas ao Exército e aos meus superiores pelo vazamento dessas mensagens privadas. Nunca apoiei golpe ou ruptura institucional. Amo a minha instituição”, disse.
Interrogatórios no STF
O STF interrogou nesta segunda-feira (28) dez réus do núcleo operacional da trama golpista, formado por nove militares e um policial federal. Eles são acusados de organizar ações para “neutralizar” opositores do plano e pressionar o comando das Forças Armadas a aderir ao complô.
Lista de réus interrogados:
- Bernardo Romão Correa Neto (coronel)
- Estevam Theóphilo (general)
- Fabrício Moreira de Bastos (coronel)
- Hélio Ferreira (tenente-coronel)
- Márcio Nunes de Resende Júnior (coronel)
- Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel)
- Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel)
- Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel)
- Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel)
- Wladimir Matos Soares (policial federal)