Ray Jordan, um menino de 10 anos, foi internado nos EUA após ter uma “intoxicação” por água. Ele tomou seis garrafas em uma hora, mas os pais não especificaram o volume delas.
Intoxicação por água existe e é chamada de hiponatremia, quando há redução de sódio no sangue associada a um volume alto de hidratação apenas com água. As reações favorecem a formação de um edema (inchaço) no cérebro, que causa principalmente confusão mental.
Ray brincava com os primos em sua casa, na Carolina do Sul (EUA), quando começou a se sentir cansado pelo calor e entrou para beber água.
“Ele entrou para beber água. O que não percebemos foi o quanto ele bebeu”, comentou a mãe do garoto, Stacy, em entrevista à WIS-TV.
Ray bebeu as seis garrafas entre 20h30 e 21h30. Por volta de 22h30, ele começou a vomitar e a apresentar sintomas parecidos a uma embriaguez, além da perda de controle do movimento.
Ele não conseguia controlar sua cabeça, braços ou qualquer coisa. Suas funções motoras haviam desaparecido. Jeff, pai do garoto
Os pais levaram o menino ao hospital. Lá, os médicos identificaram a intoxicação severa por consumo de água. A equipe administrou substâncias para o menino urinar, além de sódio e potássio para regular o seu sangue.
Ray acordou às 13h30 do dia seguinte, perguntando o que tinha acontecido e pedindo comida.
Intoxicação por água é comum?
Não. Casos de hiponatremia são raros, explica Américo Cuvello Neto, coordenador do Centro de Nefrologia e Diálise do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).
Por que ocorre?
Esses quadros são explicados pelo combo de:
Perda de sódio, que deixa o sangue diluído;
E a rápida hidratação na sequência, somente com água, que aumenta o risco de edema cerebral.
Se a ingestão de água for muito rápida, não dá tempo de urinar o excesso e ocorre a diluição do sangue. Com isso, as células do cérebro absorvem a água como uma esponja, ficando inchadas. Américo Cuvello Neto, nefrologista
Como Ray estava brincando com os primos no calor, ele deve ter perdido sódio por meio do suor. Depois, fez uma reposição alta de água e muito rapidamente. Para se ter ideia, em corridas de rua acima de 10 quilômetros, por exemplo, a hidratação não é feita só com água e, sim, com soluções eletrolíticas (que possuem água, sódio, potássio e açúcares), para evitar a diluição do sangue.
Os sintomas do problema incluem:
- Confusão mental, semelhantes à embriaguez;
- Sonolência;
- Casos ainda mais raros podem levar ao coma.
O tratamento é sempre no hospital. “A reposição com soluções com sódio e potássio deve ser lenta e gradual. Além disso, dosagens seriadas dos eletrólitos precisam ser feitas para controle rigoroso”, indica Cuvello Neto.
Há um limite de água que podemos tomar?
Sim, mas esse número é alto. Adultos com função renal normal podem tomar até 14 litros de água por dia, indica o nefrologista. Esse volume é proporcional à superfície do corpo e é menor para crianças.
Todavia, o fator mais importante é o tempo muito pequeno em que se bebe a água. Quanto mais rápida a hidratação, os mecanismos de controle da diluição do plasma são ultrapassados, o que ocasiona o inchaço no cérebro. Por isso, a hidratação não pode ser tão rápida e somente com água, sem o sódio ou potássio.