Mais de 70 milhões de brasileiros sofrem de insônia, um distúrbio do sono que compromete a qualidade do descanso e afeta diferentes aspectos da saúde e da vida cotidiana. De acordo com a Associação Brasileira do Sono (ABS), o problema atinge um terço da população. Em casos crônicos, a duração média chega a três anos, com sintomas recorrentes ao longo do ano em até 74% dos pacientes. Além disso, outros 46% apresentam sintomas de forma contínua.
A gravidade da situação fica evidente com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), que mostram que 35% da população relatam problemas de sono, e 8,5% usam regularmente medicamentos para dormir. Entre os principais fatores associados, destacam-se o gênero — já que as mulheres costumam ser mais afetadas —, a autopercepção negativa da saúde (pessoas que se percebem como doentes relatam mais sintomas de insônia), a presença de doenças crônicas, o consumo excessivo de álcool e o tabagismo.
No entanto, mesmo com uma ocorrência tão ampla, levantamentos mostram que apenas 6% dos brasileiros com sintomas recebem um diagnóstico formal. Esse dado revela um possível cenário de subnotificação. Na avaliação da endocrinologista Renata Camia, consultora médica do Sabin Diagnóstico e Saúde, confirmar a origem do problema é essencial para garantir um tratamento eficaz. “A insônia é um sintoma e pode ser apenas a ponta do iceberg. Diversas condições podem estar por trás dela, como alterações psiquiátricas — depressão e ansiedade —, desequilíbrios hormonais, como hipo ou hipertireoidismo, problemas cardíacos e pulmonares, incluindo insuficiência cardíaca, arritmias, apneia do sono, asma e bronquite”, explica.
Como diagnosticar
Segundo a médica, como as causas da insônia podem ser variadas, apenas a avaliação clínica permite chegar a um diagnóstico. Com base nessa análise, o médico pode solicitar exames complementares para investigar a origem do distúrbio. Um dos principais caminhos envolve a dosagem hormonal, já que desequilíbrios hormonais costumam prejudicar o sono.
“Alterações hormonais impactam diretamente a insônia. Os hormônios mais envolvidos são a melatonina, principal regulador do sono, e os da tireoide. O excesso de T3 e T4 provoca insônia, enquanto a deficiência desses hormônios causa sonolência”, afirma Renata Camia.
Esse tipo de investigação costuma ser indicado quando há suspeita de origem hormonal. Além dos exames hormonais, o médico também pode pedir análises de vitaminas como D, B12 e magnésio, que ajudam a identificar deficiências ou excessos capazes de interferir no sono.
Entre os exames complementares, destacam-se a polissonografia — usada para detectar apneia e insônia crônica — e o diário do sono, no qual o paciente registra seu padrão de descanso, o que facilita a identificação de hábitos prejudiciais.
Combate e prevenção
O tratamento da insônia depende da causa. Quando a origem é hormonal, pode haver indicação de reposição. Em outros casos, o controle do distúrbio envolve suplementação de vitaminas, uso de medicamentos em situações mais graves, terapias complementares e mudanças no estilo de vida — que, aliás, também representam uma das principais formas de prevenção.
“A orientação principal é a boa e velha higiene do sono. Por isso, evite estímulos como alimentos com cafeína, energéticos, álcool e refrigerantes. Também é importante reduzir o uso de telas antes de dormir. Procure criar um ambiente agradável, com luz baixa ou apagada, temperatura confortável e silêncio. Além disso, estabeleça horários fixos para dormir, não faça refeições tarde e pratique atividade física regularmente”, recomenda a endocrinologista.