Dorival Júnior pediu em boa parte dos 41 minutos de sua primeira entrevista como treinador da seleção brasileira uma “mudança de postura”. Na primeira resposta, afirmou que “o atleta precisa entender que está vestindo uma camisa muito pesada”. Durante a coletiva de apresentação, realizada na sede da CBF, no Rio de Janeiro, o treinador também insistiu que “cada um assuma um pouco mais de suas responsabilidades”.
Para o treinador, o mau momento da seleção brasileira não é reflexo (apenas) da falta de bom futebol. Ao contrário, ele aprovou a renovação que vinha sendo feita por Fernando Diniz e elogiou o trabalho de Tite, que ficou mais de seis anos à frente do Brasil. “O Tite fez um dos trabalhos mais bonitos dos últimos anos em relação a uma seleção. Infelizmente, os resultados acabaram não acontecendo nas duas últimas Copas”, considerou o técnico.
Na avaliação de Dorival, a seleção precisa de uma mudança “emocional e postural”. Ele também quer mais protagonismo de todos que estejam envolvidos com a equipe nacional. “De modo geral, e isso se repete em clubes e seleção, acaba estourando nos treinadores, em comissões. O atleta não tem ideia do que ele representa, do quanto ele pode, das qualidades que ele possui, do diferencial que ele possa ter a partir do momento que ele esteja vestindo uma camisa como a nossa”, sustentou o treinador
“Eu peço que cada um assuma um pouco mais as suas responsabilidades. Você dividindo, é natural que torne o fato muito menos pesado, porque você assume uma condição. Você vestindo essa camisa, você fatalmente vai ajudar nessa recuperação”, acrescentou o técnico.
“Não é a seleção brasileira de determinado treinador, é a seleção do povo, é a nossa seleção. Nós temos que sentir um pouco mais, nós temos que viver um pouco mais, nós temos que ajudar um pouco mais. É em momentos como este que a gente se questiona: ‘o que eu posso fazer?’. Nos momentos de vitória, as coisas acontecem de maneira natural, mas em momentos como este eu também tenho que me sentir como parte de um todo. Eu estou participando desta recuperação, eu vou ser responsável por uma conquista, eu vou ajudar”, disse Dorival. “Todos nós precisamos de um pouco mais, de algo mais.”
TREINADOR INDICA QUE NÃO POUPARÁ CLUBES NA COPA AMÉRICA
A primeira convocação de Dorival Júnior acontecerá no início de março, e será para dois amistosos na Europa, diante de Espanha e Inglaterra. A segunda, porém, já será para uma competição oficial: a Copa América dos Estados Unidos, que acontecerá nos meses de junho e julho.
A competição acontecerá em meio ao Campeonato Brasileiro, e os clubes que tiverem atletas convocados poderão ficar desfalcados por até dez rodadas. Nesta quinta-feira, Dorival foi questionado sobre o assunto e deixou transparecer que não deixará de convocar ninguém que considere importante para a seleção.
“Já sofri bastante com tudo isso, mas nunca tirei a possibilidade de o profissional estar à frente do seu maior sonho, não acho direito isso”, declarou Dorival Júnior. Ele lembrou que em 2016, quando dirigia o Santos, perdeu seis atletas por um longo período porque eles foram cedidos à seleção olímpica e para a disputa da Copa América daquele ano.
“Eu sei o quanto pesa a saída desses jogadores, mas também o quanto são importantes dentro da seleção. É preciso um equilíbrio entre necessidade e a vontade de um atleta e de seu clube. Não é fácil, não. Eu já vivi o outro lado, e agora vou ter que pensar nessa forma e me colocar na situação de treinador do lado oposto.”