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28 de setembro de 2024
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EUA desmascaram espião russo que se disfarçava de brasileiro, diz FBI

Foto: Reprodução

Há quase um ano, o espião russo Sergey Cherkasov foi preso no Brasil, onde vivia com uma falsa identidade de um brasileiro —o nome inventado era Viktor Muller Ferreira. Ele já foi condenado a uma pena de 15 anos de prisão por uso de documento falso.

Agora, esse espião também enfrenta processos nos Estados Unidos —na semana passada, o FBI, o órgão de inteligência dos EUA, publicou um relatório em que indicia Cherkasov por crimes. O texto também descreve como o espião atuava no Brasil e como era a sua vida aqui.

 

Apesar das acusações nos EUA, os americanos não decidiram ainda se vão pedir ao Brasil para extraditá-lo.

A própria Rússia tem um pedido de extradição em andamento na Justiça brasileira. Os russos afirmam que Cherkasov é um traficante de drogas, e ele mesmo afirmou que quer ser extraditado para a Rússia para responder esse suposto crime lá (leia mais abaixo).

O jornal “Washington Post” ouviu autoridades americanas que o indiciamento na Justiça dos EUA pode dificultar uma eventual extradição de Cherkasov para a Rússia.

De qualquer maneira, no último dia 18 de março, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, determinou que o pedido de extradição só será avaliado após o fim das apurações sobre os supostos crimes cometidos no Brasil.

Relembre o caso

 

A identidade real de Sergey Cherkasov foi revelada em 1º de abril de 2022. Ele havia viajado do Brasil para a Holanda para começar a trabalhar como estagiário no Tribunal Penal Internacional, em Haia, como se fosse brasileiro.

A Rússia não faz parte do Tribunal Penal Internacional, e, com a guerra na Ucrânia, a Corte de Haia recebeu diversos pedidos de processo contra o governo russo —recentemente, até mesmo emitiu um mandado de prisão contra o presidente Vladimir Putin.

Enviado de volta ao Brasil, Cherkasov foi preso na carceragem da Polícia Federal em São Paulo em abril de 2022.

Aulas de forró e passaporte falso: quem é Sergey Cherkasov, acusado de ser espião russo que viveu como brasileiro

Quem são os ‘ilegais’

 

Os serviços de espionagem da Rússia mandam agentes para outros países para coletar informações. Para que o trabalho deles não seja descoberto pelos governos dos países espionados, frequentemente esses espiões recebem missões para se infiltrar com identidades falsas.

Esses agentes são chamados de ilegais. Cherkasov era um deles.

Os ilegais recebem muito treinamento antes de serem enviados às missões. Eles aprendem línguas estrangeiras, dominam o uso de comunicação em códigos e cifras, sabem usar medidas de contraespionagem e outras formas de ludibriar os controles de outros países.

Quando os ilegais assumem uma nova identidade, eles recebem também uma “lenda”: a história falsa por trás dessa identidade inventada que assumem.

A biografia falsa de Viktor Muller Ferreira dizia que era filho de um português com uma brasileira e que havia vivido na Argentina.

Como se descobriu a história

 

Os espiões usam uma forma para se comunicar com seus superiores chamada de “dead drop” (em tradução livre, entrega “morta”). Eles vão fisicamente até um lugar de pouco movimento e deixam um pacote que tem um pen drive ou algum outro dispositivo que possui informações.

Segundo o documento do FBI, quando Cherkasov foi preso, o celular foi apreendido. Pelo aparelho, os investigadores conseguiram descobrir o ponto de “dead drop” do espião: uma região em Cotia, na Grande São Paulo.

Chegando ao lugar, havia material que revela a vida e o trabalho do espião. Esse material foi compartilhado pelas autoridades brasileiras com o FBI.

Os agentes do FBI também vieram a São Paulo, conversaram com Cherkasov, analisaram as contas de e-mail e pesquisaram as andanças dele pelos EUA, Rússia, e no Brasil.

A verdadeira história do espião

 

De acordo com o FBI, Cherkasov é de Kaliningrado, um território da Rússia que fica separado do resto do país, entre a Polônia e a Lituânia. A mãe, Galina, ainda mora lá.

O FBI revela que encontrou um vídeo de 2017 no qual Cherkasov e a mãe (que ainda vive em Kaliningrado) conversam em um restaurante no aeroporto de Moscou. As imagens no começo desta reportagem são desse vídeo.

O FBI também encontrou um perfil em uma rede social russa, a VKontakte, que publicou antigas fotos de Chersakov. A mais antiga é de 2008. Nessas fotos, Cherkasov aparece com farda militar. Ou seja, em algum momento ele foi das forças armadas russas.

Os russos, indiretamente, admitem a história

 

No começo de abril de 2022, o espião foi deportado da Holanda e voltou ao Brasil. Após a prisão, o governo do Brasil entrou em contato com o consulado russo em São Paulo.

O consulado da Rússia mandou uma carta para as autoridades brasileiras. Nesse documento, os russos reconhecem que a pessoa presa com o passaporte de Victor Ferreira é, na verdade, o russo Sergey Vladimirovich Cherkasov.

Desde a prisão, representantes do governo russo se encontram com Cherkasov com regularidade na carceragem.

O governo russo também protocolou um pedido no STF para que ele seja extraditado —alega-se que Cherkasov é procurado por tráfico na Rússia, ainda que não haja nenhuma evidência até agora de que ele tenha traficado drogas.

O ministro Edson Fachin determinou que uma eventual extradição pra o país de origem só aconteceria após o fim das apurações sobre os supostos crimes cometidos no Brasil.

Como Cherkasov conseguiu os documentos brasileiros

 

O FBI diz que o espião entrou no Brasil pela primeira vez em 13 de junho de 2010 com um passaporte russo.

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