O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitou à Secretaria Judiciária do STF a revisão gramatical de seu voto no julgamento que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e três meses de prisão. Ele foi condenado por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes.
O pedido de revisão abrange as 492 páginas do voto, em que Fux absolve Bolsonaro e os demais integrantes do chamado “Núcleo 1”. Todavia, ele abriu uma exceção a Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente.
Com o pedido, a publicação do acórdão fica adiada, o que também posterga a decretação da prisão de Bolsonaro, inicialmente prevista para novembro. O ministro tem até 60 dias para devolver o voto revisado. Na prática, isso empurra o cumprimento da pena para 2026 — ano de eleições municipais.
A estratégia pode favorecer Bolsonaro juridicamente, permitindo-lhe tempo para articular novos recursos, inclusive tentando converter a pena de regime fechado para domiciliar, alegando questões de saúde. O ex-presidente tem recorrido a crises constantes — como tosse, lesões na pele e variações de pressão arterial — para manter a imagem pública de fragilidade.
A decisão também repercute no cenário político. O adiamento fortalece a base bolsonarista no Congresso Nacional. Assim, ela trabalha para acelerar projetos como o da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e o PL da Dosimetria, que visa reduzir penas dos condenados por crimes contra o Estado Democrático de Direito.
Lideranças da oposição enxergam a revisão como uma chance de recuperar a influência de Bolsonaro entre parlamentares. Isso dificultaria votações estratégicas para o governo Lula, como a taxação das apostas esportivas (“bets”) e dos super-ricos, medidas vistas como cruciais para o equilíbrio fiscal do país.