Na semana passada, foi publicado um relatório inédito sobre o Índice de Progresso Social (IPS) em todas as cidades do Brasil. Esse índice visa medir a qualidade de vida da população em 5.700 municípios do país, destacando aspectos que vão além do simples investimento financeiro nas cidades.
O IPS é uma metodologia internacional que avalia a qualidade de vida com base em três dimensões principais: necessidades humanas básicas, fundamentos para o bem-estar e oportunidades. Cada uma dessas dimensões é composta por quatro componentes que, juntos, formam a média final do índice. O diferencial do IPS é que ele não considera o quanto o município está investindo, mas sim os resultados finais em termos de qualidade de vida da população.
Segundo o relatório, Manaus ocupou a 19ª posição entre as capitais brasileiras. A análise da arquiteta e urbanista Melissa Toledo revela insights importantes sobre essa classificação. Para ela, o planejamento urbano é um fator crucial que influencia diretamente a qualidade de vida nas cidades. Municípios que foram cuidadosamente planejados, como Brasília (Distrito Federal), Goiânia e alguns de São Paulo, tendem a ter melhores índices de progresso social.
“Quando falamos de qualidade de vida, estamos nos referindo a uma série de melhorias urbanas, como infraestrutura, habitação, mobilidade, segurança, equidade de moradia, espaços públicos de qualidade e prevenção de desastres naturais”, explica Melissa Toledo. Ela argumenta que o planejamento urbano pode impactar positivamente esses aspectos, desde o zoneamento até a infraestrutura e o deslocamento.
Melissa Toledo faz uma reflexão sobre a evolução urbana de Manaus, capital do Amazonas. Ela destaca que a cidade passou por diferentes fases, desde uma urbanização higienista durante a Belle Époque, seguida por uma estagnação, até o crescimento impulsionado pela Zona Franca de Manaus. “A legislação federal e o Plano Diretor Urbano e Ambiental têm desempenhado um papel importante nesse processo, mas é necessário considerar que esses planos são relativamente recentes, com o Estatuto da Cidade entrando em vigor apenas em 2001”, observa.
Ela também enfatiza que a qualidade de vida em uma cidade não depende apenas da gestão atual, mas é resultado de décadas de desenvolvimento urbano. Melissa Toledo defende que é preciso analisar cidades planejadas, como Brasília, em comparação com aquelas que cresceram de forma mais espontânea. “Não podemos comparar diretamente Manaus com Brasília, pois a capital federal foi planejada com uma infraestrutura específica e ampla intencionalidade política. Precisamos considerar as características históricas e os processos de ocupação urbana de cada cidade”, conclui.
A análise de Melissa Toledo reforça a importância do planejamento urbano para a melhoria da qualidade de vida nas cidades brasileiras. O IPS serve como um alerta para gestores e urbanistas sobre a necessidade de se pensar a longo prazo, garantindo que as cidades possam oferecer melhores condições de vida para seus habitantes.