O maior jacaré das Américas, o amazônico jacaré-açú já foi ameaçado de extinção pela pressão da caça na década de 1970 na região do Médio Solimões, Amazônia Central. Após a criação de unidades de conservação que buscam alinhar desenvolvimento e conservação da biodiversidade, a população da espécie se recuperou e hoje, com o manejo recém-implementado, é a mais nova alternativa de renda para comunidades ribeirinhas da Amazônia.
Com baixo índice de gordura e rica em proteína, a carne do animal foi vendido no último sábado (07), na 1º Feira de Jacaré Manejado de Tefé, no estado do Amazonas. O evento aconteceu no Mirante das Mangueiras, no centro do município.
Foram colocados à venda quase 600 quilos de carne de jacaré provenientes de abate que aconteceu do dia 4 ao dia 6 na comunidade Jarauá, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. O abate foi o primeiro do pioneiro e recém-regulamentado plano de manejo sustentável da espécie do Brasil.
Os preços variaram de R$6 a R$15 o quilo, de acordo com a parte do animal, foram comercializados rabo, coxa, sobrecoxa, pescoço, costela e lombo.
Diogo Lima, analista de pesquisa e responsável pelo Programa de Manejo e Conservação de Jacarés do Instituto Mamirauá, afirma que a feira é importante passo para tornar o manejo uma atividade viável aos envolvidos. “A feira é quando nós podemos analisar as formas de escoamento de produtos em nível local. Isso permite identificar a demanda e o público consumidor para fornecer um produto mais atrativo e que atinja melhores valores. Essa primeira feira mostrar quem consome, o que e quais aspectos são determinantes nesse consumo”, explica.
Os 28 animais capturados foram abatidos, processados e tratados na Planta de Abate Remoto, a Plantar, uma estrutura piloto para o desenvolvimento do manejo participativo de jacarés.
A Plantar deve servir de modelo a todo o estado de Amazonas, em acordo com as legislações vigentes e conciliando sustentabilidade ambiental, tecnologia e inovação, e adequação às exigências higiênicas e sanitárias. É uma estrutura flutuante de metal, de 112 metros², com tecnologias adaptadas para geração de energia e tratamento de água e resíduos.
O abate foi realizado pelos moradores da comunidade com assessoria técnica do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
A feira é realizada pelo Instituto Mamirauá com financiamento da Fundação Gordon e Betty Moore e tem o apoio da Prefeitura Municipal de Tefé e do Instituto de Desenvolvimento Agropecuária do Estado do Amazonas (IDAM). O evento também conta com suporte de armazenamento do Entreposto Distribuidora de Peixes da Amazônia.
O Plano de Manejo de Jacaré-Açú é resultado de trabalho realizado pelo Instituto Mamirauá junto à Associação de Produtores do setor Jarauá (APJ) e conta apoio da Departamento de Mudanças Climáticas e Unidades de Conservação (Demuc), Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), Ibama, Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf) e prefeituras municipais de Alvarães e Uarini.
*Com informações do Instituto Mamirauá