Moradores da comunidade Santo Antônio, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, em Novo Airão, interior do Amazonas, denunciaram nesta semana que a ONG norte-americana Global Thinkers Now estaria utilizando imagens e vídeos de ribeirinhos sem autorização para arrecadar doações internacionais, principalmente em dólares.
De acordo com os relatos, a ONG fez as publicações em redes sociais e sites internacionais, com o apelo de ajudar comunidades da Amazônia. No entanto, os recursos financeiros não chegam à população local, conforme afirmam os moradores.
A organização é liderada pelo casal Beatriz Augusta (brasileira) e Robert Ritzenthaler (americano). Ambos possuem ligação com a Igreja Adventista, de acordo os denunciantes. A sede da ONG fica nos Estados Unidos.
Vice-presidente da comunidade se diz vítima de uso indevido de imagem
A professora e vice-presidente da comunidade, Marineuza Miranda Pontes, foi uma das pessoas que descobriram suas fotos sendo usadas online sem qualquer autorização.
“A gente se sentiu lesado. Víamos que eles estavam crescendo, mas o que queríamos era que os comunitários também participassem disso. Que se desenvolvessem junto com eles”, afirmou.
Além da denúncia de uso indevido de imagem e da falta de repasse de recursos, líderes comunitários relatam intimidações e ameaças feitas por seguranças contratados pela própria ONG.
Moradores afirmam que qualquer questionamento sobre o uso das imagens ou sobre o destino das doações são recebidos com pressão e tentativa de silenciamento.
Doação de terreno marcou início do conflito
O impasse com a ONG começou em 2015. Na época, a Associação de Produtores Agrícolas de Santo Antônio doou um terreno de 5 mil m² à entidade. A promessa era construir naquele local uma casa de apoio para ações sociais voltadas aos ribeirinhos.
Entretanto, segundo os moradores, ergueram no local residências de alto padrão, com materiais e mão de obra vindos de fora da comunidade. Áreas da floresta também sofreram desmatamento para a construção das estruturas, o que gerou ainda mais revolta.
As denúncias estão sendo encaminhadas para órgãos ambientais e autoridades locais, que devem apurar o caso nos próximos dias.