Em 2025, o indigenista Egydio Schwade celebra 90 anos de idade e resistência na luta pelas comunidades originárias no Amazonas. Para marcar esse momento, o documentário bibliográfico e investigativo “O Silêncio dos Kiña” vai contar sua trajetória. Com roteiro e direção de Heraldo Daniel, o lançamento está previsto para 2026.
A produção presta uma homenagem em vida a Schwade, destacando os traumas que ele presenciou durante o contato entre os povos indígenas e os não indígenas. O filme foca principalmente em sua atuação como alfabetizador do povo Waimiri Atroari, que vive entre o sudeste de Roraima e o nordeste do Amazonas. Esse trabalho ocorreu no período crítico do fim da construção da BR-174 e da Hidrelétrica de Balbina, obras que impactaram profundamente essas comunidades.
A ideia do documentário surgiu quando Heraldo Daniel recebeu de presente o livro organizado por Schwade, A Ditadura Militar e o Genocídio do Povo Waimiri-Atroari. A obra denuncia o assassinato de aproximadamente 2 mil indígenas entre 1972 e 1977, durante a abertura da BR-174, que liga Boa Vista a Manaus. Dessa forma, a leitura despertou no diretor o desejo de conhecer o autor e personagem central da história.
“Após a leitura, quis conhecer o escritor e personagem principal da história, que alfabetizou o povo Kiña e teve contato com mais de 100 povos originários no Brasil”, relata Heraldo.
Além disso, ele reforça a importância de visibilizar os crimes da ditadura contra os povos indígenas. “Escutamos muito sobre perseguições a políticos, estudantes e artistas nos grandes centros urbanos. No entanto, pouco se fala sobre os mais de 10 mil indígenas mortos durante o golpe militar de 1964. Só na BR-174, foram 2.700 Kiña mortos — isso é assustador. Até bombas usadas no Vietnã caíram sobre as aldeias”, denuncia o diretor.
Produção
As filmagens aconteceram entre novembro de 2023 e setembro de 2024, em Manaus, São Paulo, Brasília, Vila de Balbina e Presidente Figueiredo — cidade onde Egydio Schwade vive com sua família há mais de quatro décadas.
Por isso, o projeto tem forte ancoragem territorial e histórica. Inclusive, o documentário foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo, no edital nº 01/2023 de Fomento às Artes – categoria Audiovisual. O Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, financiou a produção, e o Governo do Amazonas, via Secretaria de Cultura e Economia Criativa, executou o projeto.
Na ficha técnica, Heraldo Daniel assina a direção e compartilha o roteiro e a pesquisa com Gustavo Soranz. A produção e a produção executiva ficaram a cargo de Izis Negreiros.
Além disso, a equipe técnica inclui Orlando Júnior e Antônio Faustino na direção de fotografia; Ricardo Juliani na direção de animação; Leandro Negreiros e Antônio Faustino na captação de som direto; Fernando Crispim na assistência de direção e logger; Herman Rebelo, Eliana Andrade e Vinicios Bórba na assistência de produção; Dom Demasi na cenografia; Jonas Ezequiel no making of e fotografia still; Daniel Simões na assistência de câmera; Marcelly Câmara como contrarregra; e Júlio dos Santos Neto como estagiário de captação de som direto. Douglas Derrossi e Wolnei Cesar prestaram apoio como motoristas.
Trajetória do diretor
Heraldo Daniel é sócio fundador da Maroaga Cultural e, atualmente, preside a Associação de Cineclubistas e Documentaristas do Amazonas (ACDA). Ele iniciou sua atuação no movimento cultural em 2001 e, desde então, tem se destacado no audiovisual.
Ao longo de sua carreira, dirigiu quatro curtas-metragens. Entre eles está Raiz dos Males (2008), que ganhou visibilidade por contar com o ator Chico Diaz e por conquistar prêmios em festivais como o Guarnicê de Cinema e o FestCineBelém.
Em seguida, Heraldo lançou seu primeiro longa documental em 2022: O Clã das Jiboias – O Jiu-Jitsu da Amazônia para o Mundo, que explora as origens do Brazilian Jiu-Jitsu.
Em 2025, ele lançará o segundo longa, A Rainha do Solimões, que retrata a história da cidade de Coari. Por fim, em 2026, o público poderá assistir a O Silêncio dos Kiña, consolidando a maturidade de sua obra documental.