A Polícia Federal (PF) concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, fizeram parte de uma organização criminosa (ORCRIM) voltada à espionagem clandestina de opositores por meio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Primeiramente, essa constatação está no relatório final da operação “Abin Paralela”, encerrada nesta semana. A PF indiciou cerca de 30 pessoas, incluindo Carlos Bolsonaro. O documento, antes sigiloso, teve sua confidencialidade retirada nesta quarta-feira (18) pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Embora a PF tenha apontado sua participação direta, Jair Bolsonaro não foi formalmente indiciado, pois responde às acusações em outra ação penal que trata da trama golpista, também em andamento no STF.
Segundo os investigadores, ficou comprovado o uso irregular da Abin contra opositores do núcleo político liderado por Bolsonaro e Carlos. Além disso, os envolvidos utilizaram a estrutura para produzir e disseminar desinformação, atingindo adversários políticos e o sistema eleitoral brasileiro.
“As evidências coletadas não deixam dúvidas sobre a existência de um núcleo de desinformação voltado a atacar quem se opusesse ao grupo político liderado pelo ex-presidente”, diz o relatório.
Espionagem ilegal atingiu ministros, políticos e jornalistas
Entre os monitorados clandestinamente estão o ministro do STF Alexandre de Moraes, os ex-deputados Jean Wyllys, Rodrigo Maia e Joice Hasselmann, além do ex-governador João Doria e os jornalistas Leandro Demori e Mônica Bergamo.
Para a PF, Bolsonaro foi o principal beneficiado das ações ilegais. O grupo teria usado recursos da Abin para influenciar as eleições de 2022, com o auxílio do sistema de monitoramento FirstMile, operado de forma indevida.
Ramagem e servidores também foram indiciados
A apuração aponta que as ações ocorreram durante a gestão do então diretor da Abin, Alexandre Ramagem, também indiciado. Ele teria usado policiais federais cedidos à agência, além de servidores de confiança, para viabilizar os atos ilegais.
Além disso, a atual cúpula da Abin também foi indiciada, incluindo o diretor-geral Luiz Fernando Corrêa e o corregedor José Fernando Moraes Chuy, por suspeita de obstrução das investigações.
“Esse núcleo tentou interferir nas apurações, dificultando o acesso a provas, assediando a ex-corregedora e manipulando informações internas”, destacou a PF.
Próximos passos: decisão da PGR
O relatório agora segue para ministro Alexandre de Moraes à Procuradoria-Geral da República (PGR). Caberá à PGR decidir se apresentará nova denúncia ou se anexará o caso às ações penais já existentes sobre a tentativa de golpe no governo Bolsonaro.
Logo após a divulgação das conclusões da PF, Carlos Bolsonaro reagiu nas redes sociais, sugerindo que o indiciamento tem motivações políticas.
“Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”, declarou.