Líderes do PP e do União Brasil querem obrigar o governo federal a cortar recursos das áreas de saúde, educação e programas sociais. A proposta surgiu como alternativa ao aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), sugerido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Os presidentes das duas siglas, senador Ciro Nogueira (PP-PI) e Antonio Rueda (União), anunciaram em entrevista coletiva que pretendem fechar questão contra a proposta do Executivo. Os partidos, que contam com quatro ministros na gestão Lula, divulgaram nota defendendo cortes de gastos públicos — mas sem abrir mão das próprias emendas parlamentares, que somam cerca de R$ 52 bilhões.
Cortes sugeridos por PP e União
Na nota, os partidos listam como “alternativas fiscais”:
- Redução de recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento);
- Reforma do arcabouço fiscal com retorno das sanções;
- Fim de déficits de estatais;
- Reforma administrativa;
- Suspensão de concursos públicos;
- Desvinculação de verbas da saúde e da educação.
Esses cortes atingiriam diretamente serviços essenciais à população, especialmente os mais vulneráveis.
Economista critica proposta e aponta hipocrisia
A economista Deborah Magagna, do ICL Mercado e Investimento, classificou a proposta dos partidos como “hipócrita”. Segundo ela, os mesmos políticos que querem cortar benefícios sociais se recusam a discutir privilégios como isenções fiscais e tributação de grandes fortunas.
“Ninguém quer abrir mão dos próprios benefícios. Sempre que se fala em ajuste, a corda arrebenta do lado mais fraco. Por que não cortar nas emendas? Por que não taxar grandes fortunas?”, questiona Magagna.
Ela também destaca a seletividade no discurso de austeridade, que só aparece em determinados governos e nunca atinge setores mais ricos ou com maior influência política.
PT reage: “Ajuste não pode recair sobre os pobres”
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), criticou a tentativa de impor cortes sociais como alternativa ao aumento do IOF. Para ele, o governo Lula está comprometido com um ajuste fiscal progressivo, que não penalize os mais pobres.
“É fácil falar em ajuste quando ele recai sobre os pobres. Mas, quando toca nos privilégios do topo, vem a grita”, disse Lindbergh.
O deputado comparou o esforço fiscal atual com a gestão anterior. Segundo ele, o governo Bolsonaro aumentou os gastos públicos em R$ 800 bilhões, descumprindo regras fiscais e promovendo medidas irresponsáveis.
Isenções bilionárias e pressão do mercado
A crítica dos partidos inclui a proposta do governo de tributar investimentos isentos, como LCI e LCA. Hoje, esses ativos não pagam imposto, gerando renúncia fiscal de R$ 41 bilhões ao ano.
“Um professor paga 27,5% de IR, enquanto quem investe em LCA paga zero. Isso é justo?”, questionou Lindbergh.
Para o PT, parte do Congresso age sob pressão de grupos econômicos e ignora os interesses da população. O governo quer abrir o debate com a sociedade e garantir que o ajuste não recaia sobre os serviços essenciais.