A informação de que os fertilizantes fabricados pela Belarus não devem mais conseguir chegar ao Brasil, por conta de um bloqueio ao trânsito dos produtos do vizinho feito pela Lituânia, apenas piora uma situação que já está bem delicada para o mundo e, em particular, para o Brasil: a alta nos preços e o risco de falta de fertilizantes.
Sem saída para o mar, a Belarus, país aliado do governo de Vladimir Putin, faz divisa com a Rússia, com a Ucrânia e, ao norte, também com a Lituânia, país integrante da União Europeia e de cujos portos os belarussos dependem para chegar ao oceano e escoar suas exportações.
“Canadá, Belarus, Rússia e China respondem por 80% da produção de cloreto de potássio do mundo, é como um cartel. Se você tira os 20% de um desses fornecedores dificulta muito a oferta”, diz Mauro Osaki, pesquisador de custos agrícolas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq, escola de agricultura da Universidade de São Paulo.
Apesar de ser uma potência agrícola, o Brasil não é autossuficiente em fertilizantes e importa a maior parte do que consome, sendo o cloreto de potássio um dos principais deles. Cerca de 90% do potássio usado no Brasil é importado, sendo 20% só da Belarus. Canadá e Rússia, principalmente, completam o resto.
Os adubos e fertilizantes, de acordo com Osaki, costumam representar de 30% a 35% dos custos de uma cultura. Isso significa que fertilizantes mais caros têm grande chance de desembocar em alimentos, ao fim, mais caros também.
Os problemas para o insumo já começaram em 2021, quando uma série de sanções foram colocadas gradualmente para produtos da Belarus pela União Europeia e pelos Estados Unidos, em meio a discordâncias das nações ocidentais em relação a ações repressivas do presidente belarusso Alexander Lukashenko e também à sua política com imigrantes.
Como resultado, o preço dos fertilizantes já havia mais que dobrado no ano passado. No porto de Vancouver, no Canadá, referência internacional, o preço da tonelada do cloreto de potássio saiu de US$ 279, em maio, para US$ 680 em dezembro.
Com a escalada do conflito da Rússia com a Ucrânia a partir do início deste ano, a perspectiva de novos embargos ou mesmo dificuldades logísticas para escoar as produções já pioraram a situação. No porto de Vancouver, o preço do cloreto de potássio já passa dos US$ 700 atualmente.
“O principal receio é o transporte. O mar Negro [principal saída de exportações russas] está bloqueado para transporte militar, as embarcações não estão conseguindo pegar esse potássio e, como ninguém vai querer atracar em um porto russo em guerra, o preço do frete pode subir”, explica Luigi Bezzon, analista para fertilizantes da consultoria StoneX.
“Ainda não houve sanções diretas à Rússia nos fertilizantes, mas há o risco, além de todas as sanções financeiras, que impedem os outros países de fazer pagamentos e transferências para lá e impedem a compra desses fertilizantes“, acrescenta.
Em busca de novos parceiros
Em entrevista à CNN na quarta-feira (2), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que o Brasil tem estoques suficientes de fertilizantes para dar início à próxima safra e também que o governo brasileiro já vinha buscando novos fornecedores desses produtos para além do leste europeu.
“Desde que soubemos, lá no ano passado, que a Belarus sofreria sanções dos Estados Unidos e da Europa, começamos um périplo por alguns países”, disse ela, mencionando visitas recentes ao Irã e ao Canadá para negociar acordos comerciais em torno de produtos como o cloreto de potássio e a ureia, outro adubo importante hoje importado principalmente da Rússia.
“A gente tem preocupação, temos que ter cautela, mas já temos outros fornecedores. O Brasil tem forte dependência na importação dos três, NPK [nitrogênio, fósforo e potássio], mas temos estoques para chegarmos até a próxima safra em outubro”, afirmou a ministra.