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21 de novembro de 2024
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Remédio para azia é testado contra coronavírus

Dez pacientes com Covid-19 tratados com um remédio para azia reportaram melhora dos sintomas da doença. A série de casos em questão foi publicada nesta quinta (4) na revista Gut, periódico da British Society of Gastroenterology e publicação do grupo BMJ.

A doença primeiro chamada no Brasil de “gripezinha” já mata mais de um brasileiro a cada minuto no país.

A pesquisa, ainda pequena, não indica que a droga seja eficaz contra a Covid-19.

Os cientistas selecionaram oito pessoas do estado de Nova York, uma de Nova Jersey e outra da Suécia para participar da pesquisa. Todas foram medicadas com altas doses da droga famotidina, popular nos EUA por seu preço acessível em comparação a outros medicamentos com funções semelhantes.

Entre os pacientes, sete tinham resultado positivo para Covid-19 apontado por teste PCR (considerado padrão-ouro), dois tiveram a doença confirmada por testes sorológicos e o último teve somente o diagnóstico clínico.

Segundo os pesquisadores, cerca de 48 horas após o início do uso da famotidina, todos os pacientes já relatavam melhora dos sintomas –havia grande variação do período sintomático anterior dos pacientes. Nenhum paciente foi hospitalizado.

Os próprios autores, contudo, alertam para as grandes fragilidades da pesquisa.

Ela não é um ensaio clínico duplo-cego (no qual médicos e pacientes não sabem, respectivamente, o que estão dando ou tomando), não é controlado (quando há um grupo de controle para comparação dos resultados com os provenientes de pacientes que usaram determinado medicamento) nem randomizado (quando a escolha dos pacientes que farão parte do estudo é aleatória).

Estudos que cumprem os itens acima são considerados como padrão-ouro, ou seja, a melhor evidência científica possível de ser obtida.

Sem essas condições, vieses podem interferir no resultado encontrado e, consequentemente, o estudo por apontar para respostas incorretas. Um médico, por exemplo, pode ter a impressão de que sua intervenção faz efeito, e os pacientes, por efeito placebo, podem sentir melhora em seu quadro.

Os cientistas afirmam, contudo, que “a série de casos sugere, mas não estabelece, benefício do uso de famotidina no tratamento de pacientes de Covid-19 não hospitalizados”.

A antiga droga é um antagonista do receptor H2 que inibe a secreção gástrica e é utilizada no tratamento de doença como gastrite, úlcera, esofagite, segundo Andrea Vieira, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e chefe da clínica de gastroenterologia da Santa Casa/SP, que não participou do estudo.

Uma matéria de abril da revista Science já apontava que, sem estardalhaço, uma pesquisa com a droga já estava em andamento em Nova York.

A história da relação da droga com a Covid-19 começou a partir de relatos anedóticos do período em que a pandemia ainda se desenrolava na China.

Pesquisadores observaram que pacientes com azia crônica que tomavam famotidina pareciam morrer menos – com uma diferença estatisticamente não significativa, segundo a matéria da Science.

De volta aos EUA, um desses pesquisadores, Michael Callahan, começou a analisar a possibilidade de a droga ter algum efeito contra a doença. Modelagens moleculares apontavam que o medicamento poderia impedir a ação de uma enzima essencial para a replicação viral.

O pesquisador, então, entrou em contato com colegas para a realização de um estudo mais sólido, randomizado e duplo-cego.

Contudo, considerando o momento pandêmico dos EUA em que o estudo foi iniciado – com a hidroxicloroquina sendo usada em quase todos os pacientes hospitalizados -, os pesquisadores tiveram que fazer um braço do estudo com utilização de doses consideravelmente altas de famotidina e hidroxicloroquina e outro só com a droga propagandeada pelo presidente americano Donald Trump.

Callahan também é autor de outro estudo, dessa vez retrospectivo (ou seja, usando dados do passado e, por isso, com um nível potencial de evidência científica menor), sobre a droga.

Nessa pesquisa, publicada na revista Gastroenterology, os cientistas analisaram pacientes atendidos no Centro Médico Irving e em uma ala do Hospital Presbiteriano de Nova York, ambos da Universidade Columbia.

As análises dos pesquisadores indicaram que, em pacientes com Covid-19 e não intubados, a famotidina estava associada com redução da chance de morte ou intubação. “Os achados são observacionais e não devem ser interpretados como se a famotidina tivesse efeito protetivo contra a Covid-19”, dizem os autores.

“Estamos esperando o estudo prospectivo, mas pode ser uma luz. Porém pode ter sido só uma coincidência”, afirma Vieira, alertando que não há recomendação para uso da droga e, portanto, não há motivo para que esses estudos levem a uma busca pelo medicamento.

Um pronunciamento do presidente ameriocano Donald Trump sobre hidroxicloroquina levou a uma corrida às farmácias em busca da droga nos EUA e no Brasil. Pacientes que a utilizam corriqueiramente começaram a ter dificuldades para encontrá-la e a Anvisa passou a exigir receita para sua compra.

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