A morte de Felipe da Silva Costa, de 27 anos, durante uma operação da Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam), na tarde de sexta-feira (5), provocou revolta entre familiares, amigos e moradores do bairro Jorge Teixeira, na zona leste de Manaus. O caso ocorreu por volta das 17h30, na rua Copaíba, e desde então a versão da Polícia Militar passou a ser contestada pela comunidade local.
Versão da Polícia Militar
De acordo com a PM, houve uma suposta troca de tiros e balearam Filipe. Além disso, a corporação afirma que o jovem era suspeito de envolvimento com facção criminosa.
De acordo com o relatório oficial, os policiais apreenderam um revólver calibre .38, munições deflagradas e intactas, além de 95 munições de fuzil calibre 7.62 e um celular. Os policiais apresentaram o material na Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS).
Ainda conforme a polícia, as autoridades socorreram Felipe e o levaram ao Hospital e Pronto-Socorro Dr. Platão Araújo, mas não resistiu aos ferimentos.
Contestação da família e da comunidade
Familiares e vizinhos rejeitam a versão apresentada pela PM. Segundo relatos, Felipe havia acabado de chegar do trabalho, tirado o uniforme e estava no sofá de casa, ao lado da mãe, quando policiais entraram na residência atirando.
Testemunhas afirmam que não houve confronto e que a casa não apresentava marcas de disparos que sustentassem a tese de troca de tiros. Além disso, familiares relataram que não habia nenhuma arma com o jovem no momento da abordagem.
Amigos destacaram que Felipe trabalhava em uma loja, era pai de uma criança de 5 anos e o conheciam pela postura dedicada e responsável. “Ele era trabalhador, nunca se envolveu com facção. Foi uma execução na frente da mãe dele”, disse um amigo de infância.
Depoimento da mãe
A mãe de Felipe, que presenciou toda a ação, detalhou os momentos de terror. Ela contou que estava no quarto, ao telefone com um irmão, quando ouviu os primeiros disparos.
Segundo a mulher, Felipe assistia televisão no sofá e, ao se levantar, se deparou com a polícia. Na sequência, ela ouviu o filho gritar pedindo para que parassem antes de ser atingido.
Ela relatou ainda que policiais a retiraram da cena enquanto outros efetuavam novos disparos contra o filho. Em seguida, tomaram seu celular, vasculharam o quarto e objetos pessoais, como mochila, documentos e lençol da cama do jovem, desapareceram.
“Meu filho estava dentro de casa, sentado no sofá. Ele pediu para pararem, mas mesmo assim atiraram. Depois disseram que ele trocou tiros, mas isso não aconteceu. Tiraram a vida do meu filho e ainda levaram coisas dele. Não deixaram nem a perícia recolher o corpo, colocaram na viatura e levaram”, afirmou a mãe, emocionada.
Protestos e investigação
No sábado (6), moradores e familiares realizaram manifestação pedindo justiça. Cartazes e falas destacaram que Felipe sofreu uma execução e que a versão da polícia é contraditória.
A Polícia Civil investigará o caso, bem como a Corregedoria da Polícia Militar, que deve analisar a conduta dos agentes da Rocam. Até o momento, não houve novo posicionamento oficial da corporação.
A família afirma que vai recorrer à Justiça para responsabilizar os policiais. “A vida dele não volta, mas não vamos deixar isso impune”, declarou um dos manifestantes.
