Após ser solta na semana passada, Érika Souza, sobrinha de Paulo Roberto Braga, 68, se defende e diz que não percebeu que o tio estava morto. Em entrevista ao Fantástico neste domingo, 5, a mulher afirma que acredita estar sob efeito de remédios e que não queria o dinheiro do empréstimo para si.
A agora ré por tentativa de estelionato e vilipêndio de cadáver protagonizou uma das cenas que mais chocou o país em meados de abril. A cabeleireira é acusada de levar o tio já morto, em uma cadeira de rodas, até uma agência bancária no Rio de Janeiro para fazer um empréstimo de R$ 17 mil.
No local, funcionários perceberam que havia algo errado com Paulo e acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou o óbito. Ao ser questionada se não achou que o tio estava muito fraco para sair de casa, Érika afirma que não, e que foi ele quem pediu para ir até o banco.
Nas imagens, dentro do banco, ela aparece apoiando a cabeça do familiar, que segundo a cabeleireira, foi ele quem pediu, pois ficava ‘melhor apoiando’. O repórter questiona se a suspeita lembra o que as funcionárias falaram para ela dentro do estabelecimento: “Eu não consigo me lembrar. Não sei se é o efeito do remédio que eu tomei naquele dia”.
O remédio em questão é o Zolpidem, um fármaco usado para tratamento de distúrbios do sono. “Às vezes tomava mais do que devia”, alega.
Não percebeu
“Eu acho que nem eu e nem muita gente percebeu [que ele estava morto], porque como você dá um papel para um morto assinar. Se elas tivessem percebido algo, também não teriam dado nada”, defende Érika.
A cabeleireira alega que só se deu conta quando o socorrista do Samu confirmou o óbito de Paulo. O idoso havia ficado internado por uma semana e recebeu alta um dia antes de seu falecimento. Na mesma data, a sobrinha o levou até uma agência bancária, onde o empréstimo foi autorizado, mas o saque deveria ser feito em outro local.
Denunciada
O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou a cabeleireira pelos crimes de tentativa de estelionato e vilipêndio de cadáver. Segundo a promotoria, ela teve “desprezo e desrespeito” pelo idoso ao levá-lo ao banco morto para realizar o saque do dinheiro.
“A denunciada consciente e voluntariamente, vilipendiou o cadáver de Paulo Roberto Braga, seu tio e de quem era cuidadora, ao levá-lo à referida agência bancária e lá ter permanecido, mesmo após a sua morte, para fins de realizar o saque da ordem de pagamento supramencionada, demonstrando, assim, total desprezo e desrespeito para com o mesmo”, diz um trecho da denúncia.
No entanto, Érika afirma que o empréstimo era um desejo do tio, para fazer uma obra na parte de baixo da casa onde morava com a família dela. Há oito meses, ele havia entrado em um programa de assistência social do governo, que paga um salário mínimo ao beneficiário.
“Ele não tinha também o benefício, ele tinha alguns meses só. Minha família, nós que ajudamos ele”, relata ao dizer que o tio fazia alguns ‘bicos’, mas não tinha renda fixa.
Na quinta-feira, 2, a juíza Luciana Mocco, que está à frente da 2ª Vara Criminal de Bangu, aceitou a denúncia apresentada pelo MP e Érika se tornou ré no processo. No entanto, a magistrada atendeu a uma solicitação da defesa da sobrinha e revogou a prisão preventiva, permitindo que Érika aguarde o desenrolar do processo em liberdade.
Sobre a prisão, a sobrinha afirma que foram ‘dias horríveis’. “Longe da minha família, perdi momentos da minha vida que não vão voltar mais. Muito difícil o que eu vivi. Foi horrível. Eu não percebi que meu tio estava morto, eu não vi. Eu não sabia. Ele estava vivo, ele segurou na porta do carro, ela estava vivo. Eu não sou a pessoa que estão falando que eu sou. Eu não sou esse monstro”, diz chorando.
Em liberdade, ela precisa cumprir medidas cautelares, como se apresentar em juízo mensalmente, e justificar as suas atividades ou mudança de endereço. Caso seja necessária alguma internação de saúde mental, é preciso comunicar a Justiça. Ela também está proibida de deixar o Rio de Janeiro sem autorização.
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