A transmissão ao vivo da Rede Amazônica, afiliada da Globo, gerou polêmica nas redes sociais. O filme “Ainda Estou Aqui” venceu como Melhor Filme Estrangeiro, mas a emissora não mostrou a celebração dos artistas e cinéfilos no Casarão de Ideias, em Manaus. Em vez disso, optou por exibir uma tribo indígena realizando um ritual em homenagem à conquista.
Essa decisão reacendeu um debate frequente entre os amazonenses. Muitos criticam a maneira como o Amazonas é retratado: como uma região de floresta e povos indígenas, sem considerar sua diversidade cultural e urbana. Para alguns internautas, a escolha da Globo reforça estereótipos e desvaloriza os artistas locais.
Para entender a história de Eunice com a causa indígena
Eunice Paiva, uma das primeiras advogadas a se especializar na defesa dos povos indígenas no Brasil, se destacou nos anos 1970. Naquela época, o direito indigenista era praticamente inexistente.
Nos anos 1980, fazendeiros, madeireiros e garimpeiros trouxeram doenças para o território da etnia indígena zoró, no noroeste do Mato Grosso. O povo zoró, que viveu em isolamento até poucos anos antes, não tinha defesa contra doenças como gripe, sarampo e tuberculose. Eles pediram ajuda externa para pressionar o governo a regularizar seu território como terra indígena.
Apesar da grande mortandade entre os zoró nos anos 1980, a demarcação do território enfrentava forte oposição. Os ocupantes contavam com o apoio de setores do governo federal e do governo de Mato Grosso, que havia distribuído títulos de terra dentro do território.
Em 1986, Eunice se envolveu na defesa da etnia. A ditadura já havia terminado, mas o desmatamento continuava. Eunice elaborou um parecer jurídico analisando os argumentos a favor e contra o reconhecimento da área zoró como terra indígena.
No final do documento, foi categórica: “Nada impede a demarcação da Área Indígena Zoró”.
“Os direitos dos índios à posse de suas terras são indisponíveis. Não podem ser negociados. Não existe impugnação válida capaz de anular, restringir ou modificar os direitos da comunidade Zoró sobre a terra que é seu ‘habitat’ natural”, concluiu a advogada.