Autoridades do Iraque prenderam nove suspeitos de envolvimento no incêndio ocorrido nesta terça-feira (26), durante uma festa de casamento, que matou 114 pessoas no distrito de Hamdaniya, no norte do país.
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram que o fogo se alastrou de forma rápida após o uso de artefatos pirotécnicos. Os equipamentos soltaram faíscas em direção ao teto no momento em que centenas de pessoas jantavam em um salão. Pouco depois, o espaço foi tomado pelas chamas.
Segundo investigadores, informações preliminares indicam que o edifício era feito de materiais de construção altamente inflamáveis, o que teria contribuído para o seu rápido colapso. O premiê do Iraque, Mohammed al-Sudani, ordenou a abertura de uma investigação e solicitou aos funcionários dos ministérios do Interior e da Saúde do país que prestem assistência.
Dezenas de bombeiros ainda faziam o trabalho de rescaldo e procuravam desaparecidos na manhã desta quarta. Em um necrotério na cidade vizinha de Mossul, parentes das vítimas enfrentavam a dor do luto.
“Não foi um casamento. Foi um inferno”, disse Mariam Khedr, chorando e batendo em si mesma enquanto esperava que as autoridades devolvessem os corpos de sua filha Rana Yakoub, 27, e de três netos, o mais novo com apenas oito meses.
Sobreviventes disseram que centenas de pessoas celebravam o casamento, e que o incêndio começou cerca de uma hora após o início do evento. O vice-governador da província de Nínive, Hassan al-Allaf, disse à agência de notícias Reuters que ao menos 114 pessoas morreram. Outras 150 ficaram feridas.
Um homem identificado apenas como Youssef teve queimaduras no rosto e nas mãos. Ele disse que a fumaça dificultou a visibilidade e que a energia foi cortada logo após o início do incêndio. Ainda assim, conseguiu agarrar o neto de 3 anos e fugir. “Vimos o fogo pulsando, saindo do salão. Algumas pessoas conseguiram escapar, e outras ficaram presas”, acrescentou Imad Yohana, 34, outro sobrevivente.
Na igreja em que ocorreu a cerimônia de casamento antes da festa noturna, o diácono Hani al-Kasmousa disse que as orações pelos mortos aconteceriam no cemitério porque não havia espaço suficiente no local para tantos enlutados. “Ontem houve casamento e felicidade. Agora estamos preparando o enterro deles”, disse ele, ao lado de caixões empilhados.
Testemunhas disseram que o salão não parecia atender às normas de segurança e que não viram extintores de incêndio. Também relatam que havia poucas saídas e que a decoração era revestida de materiais inflamáveis. Os bombeiros chegaram 30 minutos após o início do incêndio.
O Ministério do Interior disse ter emitido quatro mandados de prisão contra os proprietários do salão de festas, segundo a imprensa local. As outras cinco pessoas detidas não tiveram a identidade revelada.
O Iraque, com infraestrutura deteriorada após décadas de conflito, é regularmente palco de incêndios ou acidentes fatais. Em julho de 2021, um incêndio em uma unidade para tratamento de infectados pela Covid-19 em um hospital no sul do país causou a morte de mais de 60 pessoas. Meses antes, em abril daquele ano, uma explosão de tanques de oxigênio também causou um incêndio em outro hospital em Bagdá dedicado ao tratamento da Covid —mais de 80 pessoas morreram na ocasião.