A mulher que foi mantida em cárcere privado com os dois filhos por 17 anos contou em depoimento à Polícia Civil que tentou se separar do marido, responsável pelo sequestro, várias vezes. Ela relatou, todavia, que ouviu ameaças dele, identificado como Luiz Antônio Santos Silva, preso pelo crime na quinta-feira (28).
– Você tem que ficar comigo até o fim, se você for embora, só sai daqui morta – desabafou a vítima que, desde que começou o relacionamento, foi impedida de trabalhar e estudar.
Ela disse ainda que os filhos, de 19 e 22 anos, eram acorrentados e amarrados e nunca frequentaram a escola, haja vista que foram proibidos pelo marido, com quem estava há 23 anos. Segundo o depoimento, tanto ela quanto os filhos eram agredidos física e psicologicamente.
O suspeito está detido na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ele vai responder por sequestro ou cárcere privado; vias de fato; maus-tratos e crime de tortura. A 43ª DP já realizou a perícia no local do crime, uma residência insalubre no bairro da foice, em Guaratiba, mas só deve encerrar o inquérito em até 10 dias.
Após serem libertados, na manhã da quinta-feira (28), as pessoas foram levadas para o Hospital Rocha Faria primeiro para se restabelecerem.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que a mulher e os filhos que estavam em cárcere privado apresentavam quadro de desidratação e desnutrição grave e estão recebendo todos os cuidados clínicos necessários, além do acompanhamento dos serviços social e de saúde mental.
CASO JÁ TINHA SIDO DENUNCIADO
Moradores contaram que denúncias foram feitas ao posto de saúde do bairro e ao conselho tutelar, mas que de nada adiantou. A direção da Clínica da Família Alkindar Soares Pereira Filho informou que notificou a suspeita de maus-tratos em 2020 ao Conselho Tutelar da região.
O Conselho Tutelar de Guaratiba disse que acompanha o caso há dois anos, que chamou o Ministério Público e polícia, mas nada foi feito até então. O Ministério Público não retornou.
VIZINHOS SABIAM DO CASO
Alguns moradores do bairro sabiam do crime que acontecia na casa de Luiz Antônio Santos Silva, conhecido como DJ, apelidado assim por colocar o som alto e abafar os gritos da família . Ao saberem da prisão, os vizinhos relataram que tentaram pedir ajuda ao poder público, mas, sem retorno, passaram a alimentar a mãe e seus dois filhos escondidos.
– As crianças ficavam presas, amarradas. Na quarta-feira, eu trouxe pão, mas a mulher contou que o Luiz viu e jogou fora, contou que ele queria bater nela, que achou ruim, e que eles não comeram nada – contou Sebastião Gomes da Silva.
Ele contou ainda que, na quinta-feira (28), dia em que a família foi resgatada, conseguiu dar uma fruta para a menina.
– A menina pegou hoje aqui, a bichinha pegou a banana e comeu com casca e tudo. Ela estava com muita fome – complementou.