A crise na saúde pública do Amazonas ganhou mais um episódio alarmante na manhã dessa segunda-feira (14). Uma jovem advogada, Camila Guimarães, denunciou nas redes sociais um caso de descaso ocorrido na Fundação Centro de Controle Oncológico do Amazonas (FCECON). Ao levar sua mãe para marcar um risco cirúrgico — etapa essencial para o tratamento de um câncer — Camila se deparou com uma situação inaceitável: faltava papel na impressora.
“Minha mãe fez a coleta de sangue às 7h49 e precisou aguardar para receber os resultados. Até aí tudo bem. Porém, não entregaram o comprovamente de que fizeram a coleta, pois não havia papel. Então, eles me entregaram somente um número para que pudessem identificar o resultado da minha mãe. Desse modo, assim que apresentamos esta numeração ao guichê de marcação de consulta e risco cirúrgico eles negaram. A justificativa era a falta de papel para a impressão do comprovante, ou seja, eles jogaram a obrigação do hospital para cima dos próprios pacientes”.
A jovem relatou que este mesmo problema aconteceu com outras pessoas, de forma igual ou parecida, e que estavam dispensando os pacientes desde as 6h.
FCECON sem papel: o reflexo de um sistema à beira do colapso
O caso, embora absurdo, não é isolado. Primeiramente, a FCECON, referência no tratamento oncológico no estado, vem enfrentando sérias dificuldades operacionais, como falta de insumos, demora em atendimentos, agendamentos suspensos e estruturas precárias. Em uma unidade onde pacientes lutam diariamente pela vida, o mínimo esperado é que equipamentos básicos funcionem. Mas, como mostrou Camila, nem isso tem sido garantido.
Indignada, a advogada exibiu sua carteira da OAB para se respaldar. “E quem não tem conhecimento dos seus direitos? Recebe um não do laboratório, um não no balcão na hora de marcar e vai embora com uma doença grave, pois precisava de um tratamento urgente”, desabafou. A publicação rapidamente repercutiu, escancarando o problema para todo o estado.
Felizmente, Camila reverteu a situação de sua mãe após as reclamações e, por volta de 10h40, a equipe do hospital providenciou papéis. Assim, passaram a imprimir os exames e comprovantes daqueles que aguardavam, pelo menos enquanto a advogada esteve presente.
Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas (SES-AM) sob críticas crescentes
A situação da FCECON é apenas um sintoma de uma gestão pública falha. A Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas (SES-AM), comandada pelo governo de Wilson Lima, sofre duras críticas por parte de profissionais da saúde, pacientes e órgãos fiscalizadores. Longas filas, falta de medicamentos, hospitais superlotados, demoras nos exames e apagões logísticos têm se tornado rotineiros.
Mesmo com bilhões em repasses federais e estaduais, a saúde no Amazonas continua afundada em denúncias, má gestão e falta de transparência. Durante a pandemia, a secretaria já foi alvo de investigações por contratos suspeitos e compra superfaturada de respiradores, episódio que levou até à prisão de ex-secretários.
Milhões de amazonenses prejudicados
O impacto desse abandono vai muito além da capital. Em cidades do interior, a situação é ainda mais grave: faltam médicos, ambulâncias, remédios básicos e condições mínimas de atendimento. A população, especialmente a mais vulnerável, sofre com o abandono do Estado. O que se vê é um cenário de desigualdade, sofrimento e falta de respeito à dignidade humana.
A gestão Wilson Lima, que prometeu modernizar e humanizar a saúde no Amazonas, tem falhado em garantir o mínimo. Casos como o da FCECON não merecem tratamento pontual, mas sim como consequência de uma política pública negligente, ineficiente e desumana.
Por fim, o espaço segue em aberto para uma possível manifestação da SES-AM.