A Ventrecha de Pirarucu, corte nobre do maior peixe de escamas de água doce do mundo, foi a estrela durante a experiência gastronômica “Seis Vezes Pirarucu”, realizada no restaurante Moquém do Banzeiro, na zona Centro-Sul de Manaus. O evento reuniu renomados chefs brasileiros em uma celebração dos sabores amazônicos e do manejo sustentável de pesca promovido pelas comunidades do Médio Juruá e de outras áreas de pesca no Amazonas.
Com realização da Revista Prazeres da Mesa, da marca coletiva Gosto da Amazônia e da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), a iniciativa destacou a excelência gastronômica do Pirarucu de manejo e sua importância socioambiental. Assim, a experiência buscou valorizar o trabalho das comunidades locais e promover a preservação do ecossistema amazônico.
A condução ficou por conta de três chefs de destaque: Débora Shornik, do restaurante Caxiri; Priscila de Deus, do Chez de Deus em São Paulo; e Felipe Schaedler, do Moquém do Banzeiro. Cada um apresentou duas criações exclusivas utilizando a Ventrecha, parte valorizada do Pirarucu, conhecida por sua textura delicada e sabor marcante. Essa parte é excelente para receitas assadas, ressaltando a versatilidade do peixe.
Menu da noite:
Débora Shornik:
– Barriga na lata: Ventrecha confitada na banha de porco, vinagrete de feijão manteiguinha, mousseline de banana pacovã com puxuri e chaya crispy.
– Isca no cone: Cubos de Ventrecha frita e belisquete de macaxeira com molho de tucumã acevichado.
Priscila de Deus:
– Ventrecha na brasa: Ventrecha na brasa, molho Thai com especiarias amazônicas e cuscuz de uarini com castanhas-do-Pará.
– Pirarucu na prancha: Peixe com manteiga de beef tallow, arroz caldoso de yanomami defumado ao molho de tucupi, emulsão de jambu e vinagrete de pupunha.
Felipe Schaedler:
– Pirarucu empanado: Com tapioca e fonduta de queijo grana.
– Pirarucu confit: Com mel de jandaíra, tomate curado e brotos.
Todos os pratos foram harmonizados com os vinhos Casa Perini Sauvignon Blanc e Casa Perini Merlot, reforçando a experiência sensorial e cultural do evento.
Manejo sustentável e protagonismo comunitário
Mais do que uma simples experiência gastronômica, o “Seis Vezes Pirarucu” reforçou a importância do manejo sustentável de pesca. O trabalho é promovido pelas comunidades ribeirinhas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Médio Juruá e do Acordo de Pesca de Carauari.
Dessa forma, a comercialização do pirarucu selvagem de manejo sustentável ocorre por meio da marca coletiva Gosto da Amazônia, cuja gestão é feita pela ASPROC. Assim, há mais de três décadas, essa organização atua na defesa dos direitos e na promoção da qualidade de vida dos povos extrativistas da região.
Ana Alice Britto, coordenadora comercial da ASPROC, destacou que a trajetória da organização é marcada pela superação e pela busca pela valorização do extrativismo sustentável. Ela afirma: “No início, nossa luta era contra a miséria e pela liberdade. Depois de 30 anos, seguimos firmes, agora pela valorização do homem e da mulher extrativista, preservando os recursos naturais e fortalecendo cadeias produtivas como a do pirarucu.
Produto natural
As comunidades ribeirinhas da Amazônia mostram que é possível viver de forma digna da floresta. A marca Gosto da Amazônia é fruto desse esforço coletivo, que alia sustentabilidade, geração de renda e valorização do extrativismo comunitário.”
Além disso, o modelo de pesca manejada, regulamentado pelo Ibama, garante um produto natural, livre de aditivos químicos, com alto valor nutricional, rico em ômega 3 e sustentável. Assim, promove a recuperação dos estoques pesqueiros, a geração de renda para as comunidades e a proteção do território amazônico.
O evento também proporcionou momentos emocionantes, com falas do time da ASPROC e dos chefs. Eles compartilharam suas experiências com o Pirarucu e o contato com as comunidades que tornam essa cadeia produtiva possível.
Desse modo, Débora Shornik, Priscila de Deus e Felipe Schaedler falaram sobre suas impressões, emoções e aprendizados sobre a Amazônia.
Felipe Schaedler comentou: “Esse evento é muito importante para nós porque, ao fazer essa comparação, percebemos que nem só de picanha é feito o carneiro, principalmente no Sudeste. No caso do pirarucu, a ventrecha é o prato que mais vendemos nos nossos restaurantes. Começamos essa jornada há cerca de três meses e é uma alegria muito grande poder estar com essas duas gigantes da gastronomia.”
Débora Shornik, do Caxiri Manaus, convidou os colegas chefs: “Acredito que precisamos nos desafiar como cozinheiros. Quero convidar os colegas de Manaus e de fora para que assumam esse papel de embaixadores e que a gastronomia seja uma ferramenta capaz de manter a floresta em pé. Além disso, peço que os consumidores se abram para ajudar na preservação da floresta, consumindo insumos como o pirarucu e, principalmente, a ventrecha.”
Ela também destacou:
“Sempre me emociono ao falar sobre o manejo sustentável do pirarucu. Conhecer esse trabalho de perto, durante uma expedição em 2022, foi uma experiência impactante. Viajar do centro de Manaus até a origem do produto nos fez entender ainda mais a responsabilidade de levar essa mensagem adiante. Precisamos proteger quem cuida da nossa floresta, valorizando o produto dos ribeirinhos e defendendo essa cadeia de vida.”
Valorização do território amazônico
Por fim, a iniciativa reforça a importância da valorização da sociobiodiversidade amazônica. Assim, ela reforça o trabalho das comunidades tradicionais com chefs renomados e consumidores de diferentes regiões do Brasil.
Assim, demonstra que o Pirarucu de manejo é mais que um ingrediente de alta qualidade, pois representa uma cadeia produtiva justa. Respeitar oo meio ambiente é transformar vidas na Amazônia.
Quilvilene Cunha, manejadora da comunidade São Raimundo, destacou: “O manejo do pirarucu é a alternativa que mais preserva o meio ambiente no nosso território e fortalece as organizações comunitárias. Além disso, a própria comunidade protagoniza todo o processo de vigilância e preservação até o momento da captura. É um trabalho coletivo que gera resultados coletivos.”
Ela também ressaltou os benefícios sociais e econômicos, especialmente para as mulheres: “O manejo do pirarucu traz melhorias na infraestrutura, acesso à energia solar e reconhecimento às mulheres que atuam na cadeia produtiva. Essa valorização faz toda a diferença na vida das famílias, com impacto direto na qualidade de vida.”
Potencial gastronômico
O “Seis Vezes Pirarucu” foi uma realização conjunta de instituições que acreditam no potencial da gastronomia como ferramenta de transformação social, ambiental e cultural, promovendo o desenvolvimento sustentável na região amazônica.